15 de ago. de 2014

Compreendendo o dízimo - Marco Honório

Neste, continuarei este assunto. Para que você pegue o “fio da meada”, repito na íntegra o último parágrafo do post anterior e partimos daí:
Porque somos abençoados e temos a força de Deus para provar o nosso labor (que é a exploração de recursos criados por Deus) devemos cooperar com aqueles que nos transmitem, de graça, recursos espirituais e que não geram, aos emissores, riqueza natural.
Foi isso o que aconteceu com Abraão, o primeiro dizimista:
Após voltar Abrão de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele, saiu-lhe ao encontro o rei de Sodoma no vale de Savé, que é o vale do Rei. Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo; abençoou ele a Abrão e disse: Bendito seja Abraão pelo Deus, que possui os céus e a terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos. E de tudo lhe deu Abraão o dízimo” (Gênesis 14.17-20)
Abraão vinha desenvolvendo o seu relacionamento com Deus, que o havia abençoado. A mão do Senhor estava com ele naquela batalha e o levou à vitória. Ao encontrar um sacerdote, que é alguém reconhecido para trazer ensinamento divino e interceder entre os homens e Deus, Abraão foi abençoado por ele (o livro de Hebreus afirma que o menor é abençoado pelo maior) e lhe pagou o dízimo do despojo da vitória que teve.
Vemos claramente alguém (Melquisedeque) transmitindo bens espirituais e recebendo bens materiais. E outro alguém (Abraão) que, por reconhecer que a fonte de toda a sua riqueza e renda é o Senhor, entendeu que tem responsabilidade de dar suporte àquele que cuidava em trazer a informação divina e fazia a mediação.
Como Abraão não tinha como dar esse recurso diretamente para Deus, ele entregou para aquele que o representava. A gratidão a Deus no coração é revelada através do reconhecimento do trabalho realizado pelo sacerdote.
Abraão era um homem de Deus tão quanto Melquisedeque. Na verdade, é em Abraão que as promessas da redenção se concretizam, mas a riqueza dele vinha de Deus, através do gado, das terras e dos despojos que ele possuía. Melquisedeque, por sua vez, não tinha de onde tirar sustento, pois o recurso que administra é espiritual e não material.
Dessa forma, Abraão reconheceu que era abençoado com o chamado e obra de Melquisedeque e, com seu dízimo, permitiu que este o abençoasse e trouxesse a revelação divina para outros. O escritor de Hebreus diz que é Jesus quem, de fato, recebe essa oferta (Hebreus 7.8).
É importante demonstrar que gratidão não é um princípio da lei e o dízimo que Abraão deu foi muito anterior a lei. E segundo a Carta aos Gálatas, a lei que veio posteriormente não anula a aliança anterior feita com Abraão (Gálatas 3.17).
Como pai de todo israelita, Abraão lançou as bases para o comportamento de seus herdeiros. Quando Moisés trouxe a lei e sistematizou o dízimo, isso já era um princípio entendido pelos judeus e uma prática que eles já faziam, porém, sem obrigação (até mesmo por não terem um representante oficial). Mas, quando Moisés estabeleceu a família de Levi como representante do sacerdócio, passou a fazer sentido uma lei que regulamentasse isto. No entanto, o mesmo princípio se repetia.
Quando Israel saiu do Egito e, mesmo na terra prometida, 12 tribos tinham o direito de possuir terras, gado, ouro e todo o tipo de posses, mas os levitas não tinham direito a nada disso, não tinham recursos naturais para administrarem e enriquecerem. Viviam para representar os homens diante de Deus.
A solução divina para que todos tivessem sustento foi a seguinte: como quem tinha dado a terra, o gado e tudo mais era Deus (Deuteronômio 8), então, as tribos que possuíam terra davam o dízimo de toda sua produção para os Levitas que, novamente, dizimavam o que recebiam (também como reconhecimento de que o sustento vem sempre de Deus).
É importante salientar o aspecto “maldição” pela desobediência da lei. Acredito que toda a maldição descrita na lei de Moisés é uma reedição da condição assumida pelo homem no jardim do Éden, ao comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Como aprendemos com o irmão Hagin, a maldição da lei abrange três aspectos da vida humana: morte espiritual, miséria e enfermidade. Estes mesmos aspectos foram comunicados ao homem após a queda. Dessa forma, a novidade que a Lei trouxe foi a chance (mesmo que inalcançável) de ser abençoado, caso obedecesse.
Por isso, Gálatas 3.16 nos atinge quando diz que “Cristo nos resgatou da maldição da Lei”. Se não estávamos debaixo da lei, não estávamos debaixo da maldição, mas a maldição da lei é a mesma maldição que atingiu a toda a raça humana, a partir do pecado.
O que os Judeus tinham com a Lei era a chance de, pela obediência, estancar o processo de maldição inaugurado no Éden. Como sabemos, essa solução se mostrou ineficiente e foi Deus quem quis assim, para que essa conclusão levasse os homens a Cristo.
A Lei trazia princípios sociais, rituais e de preservação. De alguma forma, todos os aspectos apontavam pra Cristo e para a Nova Aliança. O princípio do dízimo foi inserido na Lei e, como mostra o capítulo 7 de Hebreus, a mesma ideia continuou respeitada na Nova Aliança. Entendemos então que o dízimo não é da Lei (como muitos afirmam) assim como, gratidão, comprometimento e fé em Deus também não foram inventados por Moisés, pois são estes os princípios que regem o dízimo.
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os PRECEITOS MAIS IMPORTANTES DA LEI; A JUSTIÇA, A MISERICÓRDIA E A FÉ; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” (Mateus 23.23)
Esse texto, apesar de duro, é muito esclarecedor. Jesus chamou o dízimo de preceito da Lei, assim como justiça, misericórdia e fé, que seriam preceitos mais importantes. Veja que:  fé, justiça e misericórdia não foram, de forma alguma, criados pela Lei. Noé e Abraão já andavam nessas pegadas séculos antes, e elas não foram encerradas com o fim da Lei. Pelo contrário, são princípios extremamente neotestamentários.
De fato, muitas coisas foram criadas pela Lei de Moisés e apontavam para Cristo. Quando Ele chegou, estas perderam o sentido de ser. A Lei, entretanto, incorporou como regra princípios eternos e o fato dela ter acabado não destrói esses princípios. Um desses princípios é o dízimo.
Também é importante ver que Jesus trouxe um alerta para atitudes internas (espirituais) e não apenas externas (naturais), pois ações externas podem maquiar a carnalidade, como era o caso dos fariseus. Na verdade, o chamado farisaísmo consiste em criar tradições de ações externas extremamente rígidas, mas que não produzem vida. Dessa forma, mesmo dizimando, eles semeavam para a carne.
Ainda teremos mais um post sobre este assunto nos próximos dias. Aguarde e seja abençoado praticando a Palavra de Deus.

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