Este é o terceiro e último post consecutivo com a temática do dízimo. São textos independentes, mas estão interligados. Se você ainda não leu os anteriores, não vai ficar confuso se começar por esse, mas depois “dê uma passadinha” nos outros, pois vão edificar a sua vida e ampliar o entendimento do que estamos trazendo:
“Não sou eu, porventura, livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Acaso, não sois fruto do meu trabalho no Senhor? Se não sou apóstolo para outrem, certamente, o sou para vós outros; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor. A minha defesa perante os que me interpelam é esta; não temos nós o direito de comer e beber?” (I Coríntios 9.1-4)
Entendo que essa seja a grande questão do dízimo: Será que aqueles que ministram para nós, nos edificam, velam por nossa vida e nos aconselham, são obrigados a viver em “jornada dupla”?
Os Coríntios foram agraciados por Deus com toda a sorte de dons e revelação da Palavra. Paulo foi aquele que iniciou todo esse processo. O apóstolo, perplexo com a indiferença dos seus discípulos, continuou:
“E também o de fazer-nos acompanhar de uma mulher irmã, como fazem os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor e Cefas? Ou somente eu e Barnabé não temos o direito de deixar de trabalhar?” (I Coríntios 9.5-6)
Deixar de trabalhar aqui é, obviamente, uma outra atividade que seja não o ministério. Lembrando de que a idéia do dízimo é justamente que aqueles que nos ministram não precisem trabalhar com recursos naturais, mas sim espirituais.
“Quem jamais vai a guerra à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta um rebanho e não se alimenta do leite do rebanho?” (I Coríntios 9.7)
Uma série de perguntas retóricas, mas de respostas obvias e inquietantes.
“Porventura, falo isto como homem ou não o diz também a lei? Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca do boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que se preocupa? Ou é, seguramente por nós que ele diz? Certo que é por nós que está escrito; pois o que lavra cumpre fazê-lo na esperança; o que pisa o trigo faça-o na esperança de receber a parte que lhe é devida” (I Coríntios 9.8-10)
A clareza e sinceridade de Paulo são constrangedoras. É interessante a observação de Paulo de que a sua opinião não era humana, porque a Lei diz exatamente a mesma coisa, porém, em outras palavras, essa opinião era divina.
Paulo está, na Nova Aliança, afirmando que o princípio pelo qual os ministros eram sustentados na Lei (dízimo) não é da Lei, mas eterno e divino. É para aqueles que ministram terem sustento. Porque Deus se preocupa com eles, essas coisas estão escritas.
“Atar a boca do Boi enquanto debulha”, fala de um princípio egoísta de receber o benefício da força do boi, para tração do arado e debulha do trigo, mas impedi-lo, enquanto isso, de comer algum trigo pelo caminho. É como dizer: “eu quero sua força, dedicação e talento, mas não conte com nada meu”. Isso é qualquer coisa, menos cristianismo.
“Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais? Se outros participam desse direito sobre vós, não o temos nós em maior medida? Entretanto, não usamos desse direito; antes, suportamos tudo, para não criarmos qualquer obstáculo ao evangelho de Cristo” (I Coríntios 9.11-12)
Pelo que já lemos em Gálatas e agora em Coríntios e que tem eco também em Filipenses 4, quando Paulo fala sobre se associar no tocante a dar e receber, parece claro que ele considera lógico, e uma regra correta, que aquele que recebe bens espirituais deve compartilhar bens materiais. Igualmente, o que recebe bens materiais deve ter compartilhado, antes, bens espirituais. Na mente do apóstolo, é uma troca lógica e justa, até mesmo uma associação (Filipenses 4.14-14).
Da igreja de Corinto, Paulo resolveu não receber o benefício, visto que, para eles, isso era motivo de escândalo e pelo fato de não estarem agindo com gratidão e reconhecimento a tudo que Paulo havia feito. Ele recebia salário de outras igrejas, que faziam isso voluntariamente, como parece que era o caso da igreja de Filipos (II Coríntios 11.8 ), mas dos Corintos ele resolveu não receber. É importante que se perceba que Paulo só não recebia de Corinto, mas das outras ele recebia e contava como salário.
Como uma igreja pode pagar salário se não tiver uma receita constante? E como virá esta receita? A resposta é fácil e óbvia: através do dízimo de seus membros.
“Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E quem serve o altar do altar tira o seu sustento? Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho” (I Coríntios 9.13-14)
Novamente, Paulo apelou para a Lei e mostrou que o princípio da Lei continuava valendo, pois, na verdade, o mesmo não é da Lei e sim eterno, ao ponto do próprio Senhor Jesus ordenar a mesma coisa para aqueles que pregariam o Evangelho da graça.
“Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários presbíteros que presidem bem, com especialidade aqueles que se afadigam na palavra e no ensino. Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E o trabalhador é digno do seu salário” (I Timóteo 5.17-18)
Mais uma vez, os conceitos do salário e da gratidão ficam evidenciados. “Dobrados honorários” falam do reconhecimento pelo trabalho prestado. Uma igreja não pode fazer isso sistematicamente se não tiver uma receita sistêmica. Por outro lado, não fazer isso é visto como defraudação.
Aqui fazemos um cálculo simples: se um ministro prega uma vez, deve receber o honorário por aquela pregação; se o pastor, ou presbítero, faz isso diuturnamente, deve receber um salário para que essa assistência não cesse.
Exponho esse versículo na versão da Bíblia Amplificada: “Deixe que os presbíteros que cumprem os deveres do seu ofício bem, sejam considerados duplamente dignos de honra [e com adequado suprimento financeiro], especialmente aqueles que trabalham fielmente na pregação e no ensino”.
Particularmente, penso que é muito cruel não dar o dízimo, quando somos ensinados, edificados, aconselhados e amados por uma igreja local. A Bíblia dá a entender que, na verdade, é um abuso e uma atitude feia receber bens espirituais, mas deixar aqueles que nos compartilharam esses bens se virarem para conseguirem bens materiais, pois, afinal de contas, eles também precisarão. Como disse Paulo, talvez eles precisem de um cônjuge. Talvez tenha uma família e, mesmo assim, está lá pregando e ensinando a Palavra.
A discussão aqui não é sobre a qualidade do presbítero, mas sobre o cristianismo dos ouvintes. Creio que foi para isso que Deus estabeleceu o princípio espiritual do dízimo. Ele nos abençoou com toda sorte de benção, nos encheu de abundância, força e recursos para enriquecermos o quanto conseguirmos, mas se não aprendermos a colocar nossa conquista em prol do Evangelho, estamos invertendo gravemente as coisas.
Penso que é impossível manter a benção de Deus operando a meu favor, quando sou movido por egoísmo, mesquinhez e indiferença a necessidade dos próximos e, principalmente, as dos da família da fé.
Por outro lado, acho que a fidelidade nos dízimos e nas ofertas dá o testemunho de que Deus pode confiar em mim e de que eu reconheço que Ele é a fonte inicial de tudo o que eu posso alcançar, com a força que Ele me deu.
Dízimo é uma atitude de fé e amor. É muito triste ver a necessidade que muitos pastores enfrentam de ter que anunciar inúmeras bênçãos para que a igreja dê o dízimo, pois se não for para receber em troca, os crentes não se importarão se seus líderes têm o que comer ou como pagar as contas da própria igreja.
Acho que sou movido por egoísmo quando dou dinheiro na igreja só porque as janelas do céu serão abertas. Por isso, precisamos entender que elas estão abertas, hoje, porque Jesus morreu e ressuscitou e eu me assentei lá com Ele, mas minha infidelidade pode estancar o fluir dessas bênçãos para a minha vida.
Gosto de algo que o pastor Marcelo Carvalho costuma dizer: “nossas sementes não saem do nosso bolso, mas do nosso coração”. Semear para carne ou para o espírito é isso, afinal oamor ao dinheiro é raiz de todos os males.
Creio, de todo o meu coração, que aquele que semeia pouco, pouco também ceifará, e aquele que semeia com fartura, com abundância também ceifará, mas, como diz o texto bíblico, Deus ama a quem dá com alegria. E, essa, é uma atitude interior.
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