A RESTAURAÇÃO DE DEUS
PREFÁCIO
Antes de iniciarmos este estudo gostaria de fazer uma observação. Não deixem de ler em suas bíblias os versículos citados entre parêntesis, porque eles são a parte mais importante deste estudo. Eles não foram descritos porque ficaria um estudo muito extenso. Não é o texto que tem valor, e sim a Palavra de Deus. Ela é que é viva e eficaz. O texto é como Esdras fez, para dar sentido ao que estamos falando. O sentido é nosso, mas a Palavra é de Deus.
A finalidade deste estudo não é para que você o leia simplesmente, mas que medite com as Escrituras. Façam como os Bereanos que examinavam tudo para ver se é assim mesmo como está sendo dito.
A PALAVRA DE DEUS
Há um encargo em meu coração para compartilhar sobre a obra da restauração de Deus, - como o Senhor nos ensina em Atos 3.21 - dentro da medida da fé que o Senhor tem me repartido. Como a visão daqueles 4 seres viventes de Apocalipse, cheio de olhos, e com 4 rostos diferentes, os evangelhos também revelam a Pessoa de Cristo de 4 formas diferentes: como rei, como servo, como homem e como o Filho de Deus. Isso nos mostra que nenhum homem, individualmente falando, pode conhecer a Cristo em sua totalidade. Isso só é possível com todos os santos, com toda a Igreja (Ef. 3.18).
Nós vemos apenas em parte, e em parte profetizamos (I Cor. 13.9). Há irmãos muito preciosos que tem exaustivamente compartilhado sobre a restauração de Deus, com muito mais amplitude, mas eu gostaria de contribuir, com a graça do nosso Senhor, com uma pequena porção de fé à Igreja. Somente a Igreja pode ter toda a porção de Cristo; de conter Cristo em sua plenitude.
Alguns se referindo à restauração, dizem que Deus está restaurando a Igreja. Restaurar é recuperar algo que foi perdido ou destruído, portanto, o Senhor nunca irá restaurar a Igreja e sim o seu testemunho, porque a Igreja nunca foi destruída nem perdida. Jesus não se enganou com a sua Igreja quando a criou pela ressurreição. Ele sabia que ela precisava desde o princípio ser santificada, e para isto, tem sido desde então, purificada pela lavagem da água pela palavra (Ef. 5.26).
O que é preciso ser restaurado é o testemunho de Deus através da Igreja. Mas quando falamos também sobre testemunho, podemos cair no erro de achar que ele se dá na forma. Testemunho é algo visível, mas a tentação é que demos testemunho através de uma forma de reunião, ou uma assembléia sem nome; com mudanças de práticas como a ceia, batismo e principalmente uma unidade mostrada pela reunião de todos os cristãos locais em um mesmo lugar.
Isso tem sido um mal maior no meio da cristandade. Em nome de uma unidade, se tem causado mais divisões. Na igreja de Corinto tinha um grupo que se dizia ser de Cristo e não de Paulo ou Cefas, mas Paulo os inclui entre aqueles que promoviam dissensões. Mas por que alguém que se diz de Cristo pode promover dissensões? Porque eles se consideravam um grupo especial, um grupo de elite que não se misturava aos outros. Eles não diziam que todos eram de Cristo, mas que somente eles eram. Nós somos de Cristo, nós somos a igreja, e aí por diante.
A divisão na maioria das vezes não se mostra de forma visível. A divisão é gerada e nutrida no coração. Em Corinto eles estavam juntos, mas os seus corações estavam divididos. Isto mostra claramente que a forma visível de unidade, baseado na forma é sempre uma farsa. Por isso o Senhor não está restaurando a Igreja, porque ela nunca esteve destruída, mas o seu testemunho.
Se o testemunho não tem acontecido pela forma visível, qual é o testemunho que está sendo restaurado? O testemunho do seu Filho. O testemunho que Deus dá é acerca do Seu Filho, e este é o testemunho a ser restaurado (I Jo. 5.10). O testemunho da presença e autoridade do seu Filho Jesus como o cabeça do corpo da Igreja. Cristo como Luz e Vida do seu povo: "Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens" João 1.4.
O homem desde o princípio nunca buscou de Deus a sua vontade, mas sempre quis criar o seu modelo para seguir. O homem sempre quer servir a Deus com as suas próprias mãos, daí cria um modelo próprio. Isto vemos claramente na torre de Babel ou no bezerro de ouro no deserto. Mas qual é a diferença quando criamos um modelo humano de igreja? Condenamo-los, mas criamos o nosso próprio modelo.
Mas mesmo não aceitando um modelo humano, podemos cair num outro erro: não ter modelo algum. O homem é extremamente tendencioso a ser extremista. Quando não estamos num extremo, estamos no outro. Não podemos tomar modelo algum, mas se somos cooperadores de Deus nesta obra - vejam bem, apenas cooperadores - temos que crer que existe por trás dela um arquiteto e edificador (Heb. 11.10).
O molde que o homem criou para fazer o bezerro de ouro não podia ser aceito por Deus, mas por outro lado, Deus não iria admitir que alguma coisa fosse modificada ou até mesmo embelezada no seu tabernáculo. Tudo era para ser feito conforme o modelo que tinha sido mostrado a Moisés no monte (Êx. 25.40). O modelo era do céu, porque tudo era uma figura de Cristo, tudo mostrava Cristo. Quando Deus olhava para o tabernáculo, mesmo que fora construído com materiais terrenos, ele via o Seu Filho.
A Igreja do Senhor é assim também. Ainda que nós não vejamos nada, Ele vê a beleza, a formosura, o caráter do Seu Filho sendo formado nela. Mas não somente isto, Ele também quer através da Igreja, mostrar aos principados e potestades, a sua multiforme sabedoria (Ef. 3.10). Agora não somente para Ele ver, mas para todo o céu ver. Aleluia!
Davi também desejou fazer uma casa para Deus, mas na mesma noite o Senhor disse a ele: "Edificar-me-ás tu uma casa para minha habitação?" II Samuel 7.5. Parece uma incoerência Deus dizer para ele não fazer, e depois mandá-lo preparar todo o material para que fosse feita! Porque o templo estava no coração de Deus, mas Ele e não Davi é que iria edificar a casa (II Sam. 7.11).
Então, depois de Davi preparar tudo, ele teve o cuidado de dizer ao seu filho Salomão: "Tudo isto... fez-me entender o Senhor, por escrito da sua mão, a saber, todas as obras desta planta" I Crônicas 28.19. A Palavra de Deus é a planta da Casa de Deus.
Por isso a primeira coisa a ser restaurada, tendo em vista o testemunho de Deus, é como Deus fez através do rei Josias, do escriba Esdras e muitos outros: que é voltarmos para a Sua Palavra. Somente ela é viva e eficaz. Não há nada na Palavra de Deus que seja perverso. Toda ela testifica de Cristo. Não a letra, mas o Espírito, porque a letra mata, mas o Espírito vivifica.
Temos que buscar na Palavra, mas indo a Ele para ter Vida (Jo. 5.39-40). A Palavra é lâmpada para os nossos pés, e luz para o nosso caminho (Sal. 119.105). Ela é divinamente inspirada e útil (II Tim.3.16). Tudo o que antes foi escrito para o nosso ensino foi escrito (Rom. 15.4).
Ela é o instrumento de Deus para trazer revelação, isto é, luz, para que na sua luz possamos ver a Luz (Sal. 36.9), a Luz dos homens. Porque não havendo profecia, ou visão, o povo se corrompe, se deteriora (Prov. 29.18).
E então, não como visionários, mas olhando firmemente para Jesus, autor e consumador da nossa fé, que possamos alcançar um bom testemunho pela fé (Heb. 11.2). O testemunho se dá pela Vida e não pela profecia ou visão.
A VISÃO
Como vimos anteriormente, o Senhor nos faz primeiramente retornar à Sua Palavra, mas de que adianta as Escrituras se não houver visão espiritual? Como diz Paulo em II Coríntios 3.15, até o dia de hoje ela é lida, mas um véu está colocado sobre o coração deles. A Palavra de Deus pode ser lida, mas se o Senhor não abrir os olhos dos cegos, como disse na sinagoga da Galiléia lendo o livro de Isaías, eles iriam permanecer como estavam (Lucas 4.18).
Depois que o povo de Israel entrou na terra prometida, continuou gozando da mão poderosa e graciosa do Senhor. O Senhor fez com que tudo que tinha dado a Israel fosse escrito, para que eles tivessem cuidado de fazer tudo conforme estava escrito, e então fariam prosperar o seu caminho, e seriam bem sucedidos (Jos. 1.8). Mas com o tempo a visão ia se desvanecendo; não por causa do Senhor, mas por eles mesmos, e as Escrituras se tornavam apenas letra novamente.
Mas o tempo foi passando e chegou um tempo, no tempo do profeta Eli, que a visão se tornara muita rara (I Sam. 3.1). Eles tinham as Escrituras que era lida de tempo em tempo, mas a visão era muita rara. Contudo a lâmpada do Senhor nunca se apaga (I Sam. 3.3); Cristo, a luz do mundo não pode ser apagado. Deus então levantou Samuel, e então a visão foi restaurada: "E continuou o Senhor a aparecer em Siló; porquanto o Senhor se manifestava a Samuel em Siló pela palavra do Senhor" I Samuel 3.21.
A tendência natural não é que as Escrituras sejam esquecidas, mas que a visão seja ofuscada. A lâmpada, a candeia que alumia no lugar escuro não esteja completamente acesa (II Ped. 1.19). O apóstolo Paulo também nos adverte isto em I Tessalonicenses 5.19, quando diz: "Não apagueis o Espírito". A letra sem o Espírito é uma candeia sem luz.
Mas a promessa do Senhor é que o pavio que fumega nunca será apagado. Isto é uma grande esperança, mas por outro lado, o tempo que está quase apagando é muito triste, as visões se tornam muito raras.
Mas no período de Samuel até Salomão, o povo de Israel tem um tempo muito glorioso, mas depois vem novamente a decadência, onde a visão se torna menos frequente. Depois de um período obscuro, novamente o Senhor restaura a visão aos cegos através dos reis Ezequias e principalmente de Josias (II Crôn. 34.17-21).
Podemos notar pela Palavra que novamente depois de um longo tempo, e depois de um cativeiro de 70 anos, o Senhor reacende a sua lâmpada pelo escriba Esdras. O Senhor despertou o seu espírito para subir a Jerusalém e restaurar o templo (Esdras 1.5), e então novamente a candeia foi totalmente acesa; Deus preparou o coração de Esdras para primeiramente buscar e cumprir a lei do Senhor e depois para ensinar, trazendo com isto luz para todo o povo de Israel (Esd. 7.10, Nee. 8.8).
Depois disso passou um longo tempo novamente até que a candeia fosse reascendida por Cristo. Enquanto esteve no mundo Ele era a Luz (Jo. 9.5). Agora não mais um tipo ou figura de Cristo, mas o próprio Jesus, a Palavra Viva, o Verbo encarnado (Jo. 1.14). Depois no Pentecostes o Espírito deu um testemunho visível disso, através das línguas de fogo que pousaram sobre cada um deles, que agora a Luz estaria neles; que a Igreja seria agora a luz do mundo (Atos 2.3).
O texto que vimos acima de I Samuel 3.21 nos confirma de forma muito clara isto. Quem Samuel via? O Senhor se manifestando. E como o Senhor se manifestava a Samuel? Pela sua Palavra. O que Samuel viu, a palavra somente ou o Senhor? O Senhor claro, pela Sua Palavra.
A visão dada a Samuel trouxe a Davi, uma figura preciosa de Cristo. Toda visão de Deus nos leva a Cristo, e toda visão fora de Cristo é uma tentação de Satanás. Um testemunho disso é o cego de nascença de João 9. Ali o Senhor nos ensina o caminho de alguém a qual a visão é restaurada. Ela começa com o Senhor abrindo os nossos olhos, para no final nos fazer ver a Cristo, para que possamos adorá-lo em verdade.
O termo 'visão da igreja' se tornou algo comum entre alguns cristãos, mas para muitos esta dita 'visão' não está trazendo realidade. Isto porque a visão que temos que ter não é de algo, mas sim de uma Pessoa: Cristo. Muitos usam o testemunho de Paulo ao rei Agripa (At. 26.19), para citar que ele não foi rebelde à visão celestial, mas se referindo à visão como visão da igreja. A visão que ele teve não foi da igreja, mas de Cristo e depois da Igreja nEle.
Paulo não pregava a igreja, mas a Cristo. Ele seria infiel à visão se tivesse pregado a igreja. Os apóstolos também estiveram por três anos com Jesus, mas não o viram. Apenas depois da sua ressurreição é que tiveram os olhos abertos para vê-lo através das Escrituras (Luc. 24.44-45), e daí pregaram a Ele pelas Escrituras (At. 4.31-33 e 5.42).
Não podemos nos gloriar numa 'visão' que não traz a Vida. O inimigo é muito sutil nessas coisas. O Senhor nos ensina a olhar firmemente para Jesus, mas o inimigo nos diz para olharmos um pouquinho para a direita ou para a esquerda. Pronto, se dermos ouvidos a ele a visão ficará embotada. O que é olhar firmemente? Você pode dizer que está olhando firmemente se desviar os olhos um pouquinho? Certamente que não.
Por isso não creio que alguém possa ter alguma visão celestial fora da Pessoa de Cristo. O Senhor nunca começa pela edificação, mas pelo fundamento. E toda edificação também está determinada por Deus para iniciar à partir de uma pedra angular: Cristo (I Ped. 2.7-8 ). Para nós, os que cremos, ela é a preciosidade, mas para os que se dizem 'edificadores', ela é rejeitada. Claro, eles são falsos edificadores, porque quem edifica é Deus, é Cristo, e somente eles (Heb. 11.10; Mat. 16.18; Ef. 5.29).
Que o Senhor abra os olhos do nosso entendimento para que tenhamos uma visão real. Não de algo que está em Cristo, mas como o cego de nascença, de Cristo para adorá-lo. E nEle, olhando firmemente para Ele, possamos ver tudo, desde a serpente levantada - que é a obra na cruz (Jo. 3.14), até a sua Igreja gloriosa (Apoc. 21.10-11). Olhando para Ele seremos salvos (Isa. 45.22), seremos iluminados (Salmos 34.5).
O Senhor por sua misericórdia tornará as nossas trevas em luz, e as coisas tortas ele endireitará. Muitos cegos verão o Senhor e o adorarão em espírito e em verdade (Isa. 42.16-18). Ele disse, e o fará, mas não podemos nos esquecer das cinco virgens insensatas que estavam com as lâmpadas se apagando. Isto mostra que neste exato momento, há irmãos prudentes que estão olhando, conhecendo e prosseguindo no conhecimento dEle, e há outros que estão como cegos, infrutíferos no conhecimento dEle, vendo somente o que está perto.
A PEDRA ANGULAR
Como vimos anteriormente, o Senhor primeiro nos leva à Sua Palavra e então restaura a vista aos cegos, nos dando visão espiritual. Mas a finalidade da revelação da Palavra e da visão é nos levar a Cristo. As Escrituras é uma candeia que alumia em lugar escuro, até que a estrela da alva, a estrela da manhã, a aurora lá do alto surja em nossos corações (II Ped. 1.19; Apoc. 22.16). Aquele que disse a Palavra é o mesmo que resplandece em nossos corações, para iluminar (II Cor. 4.6).
Não que no coração de Deus Cristo não esteja em primeiro lugar, mas para que em Cristo tenhamos vida, é necessário que primeiro o Senhor restaure a Sua Palavra e por ela a visão. Como vamos ver a seguir, Ele primeiro envia a Sua Palavra, e dá visão para que à partir de Cristo comece a edificação, ou a restauração daquilo que já tinha sido edificado e que agora está destruído.
A Palavra de Deus é viva, não somente palavras, por isso é que o Verbo se fez carne. A Palavra enviada não pode voltar para Ele vazia (Isa. 55.11). A candeia alumia em lugar escuro, a profecia é para este tempo, mas um dia ela cessará, um dia essa candeia será apagada (I Cor. 13.8), mas o sol da justiça que resplandeceu em nossos corações jamais será apagado. Quando o último inimigo for vencido, aí não haverá mais noite; não necessitaremos da luz da lâmpada, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus nos alumiará pelos séculos dos séculos (Apoc. 22.5). Aleluia!
Aprouve a Deus que em Cristo convergissem todas as coisas; que Ele tivesse toda a preeminência, isto é, que tudo que tivesse algum valor espiritual e eterno estivesse apenas nEle (Col. 1.18). Ele é o Alfa e o Ômega de todas as coisas; o princípio, meio e fim (Apoc. 1.8). Porque dEle, e por Ele, e para Ele são todas as coisas. Ele é a pedra angular, a pedra de esquina por onde começa toda a edificação de Deus.
Não pode haver algum tipo de visão espiritual fora de Cristo. Toda visão fora de Cristo é falsa, é um embuste, uma armadilha, uma mentira astuciosa, ainda que seja usada a Palavra de Deus. Esse é outro grande erro, criar algo baseado na Palavra de Deus, mas sem o Cristo da Palavra. Como Jacó que chamou o lugar da visão que teve de casa de Deus, para depois conhecer o Deus da Casa de Deus (Gên. 35.7). Ele viu somente depois, mas muitos que vieram depois dele não viram a Deus, somente o lugar que Jacó teve a visão, e aquele lugar se tornou um tropeço para o povo.
Quando Deus criou o mundo criou tudo para Cristo. Ele é antes de todas as coisas, e tudo subsiste por Ele. O Verbo estava no princípio com Deus, e o Verbo era Deus. Tudo foi criado por Ele e para Ele, e sem Ele, nada do que foi feito se fez (Jo. 1.3). Deus fez assim para que em Cristo habitasse toda a plenitude (Col. 1.10).
Por isso, depois de Deus criar os céus e a terra, ele disse: "Haja luz. E houve luz... E Deus chamou a luz Dia, e as trevas noite. E foi a tarde e a manhã o dia primeiro" Gênesis 1.3-4. O que é essa luz, ou melhor, quem é essa luz? A mesma Escritura nos diz em II Coríntios 4.6 que é Cristo: "Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo".
Notem também que a palavra "Dia" está em letra maiúscula, indicando que o Dia é uma pessoa. Ele é o primeiro Dia para o universo, e Ele é o primeiro Dia da nossa vida cristã. Sem Ele não há luz, não há Dia, é tudo trevas. Não que havia trevas na eternidade passada, mas depois de tudo criado, sem Cristo tudo era sem forma e vazio; em trevas e só abismos (Gên. 1.1-2).
Quando Deus plantou um jardim no Éden, Ele começou a fazer brotar da terra toda qualidade de árvores, mas Ele começou pelo meio do jardim. A primeira árvore que plantou foi a árvore da vida (Gên. 2.8-9). Quando o homem caiu em pecado, a primeira coisa que Deus fez ao homem, ainda dentro do jardim, foi vesti-los com túnicas de peles de animais que sacrificara (Gên. 3.21). Deus não poderia olhar para a sua criatura em pecado, então passou a olhar para a justiça do Seu Filho.
Quando Deus enviou o dilúvio sobre a terra Ele mandou Noé construir uma arca. Qual é a figura da arca, sendo usada para a salvação da sua família? Cristo claro. Tudo tipifica Cristo. Se você não o vê nas Escrituras, você tem conhecido apenas a letra.
E quando Noé saiu da arca qual foi a primeira coisa que fez depois de receber revelação do Espírito tipificado pela pomba? Fez um altar e sacrificou a Deus, e depois plantou uma vinha. Que figuras tão bendita de Cristo! Tudo tem que iniciar por Ele, porque somente nEle há Vida. - O altar é o assunto que iremos ver a seguir.
Quando o povo saiu do Egito, Deus mandou que eles tomassem para cada casa um cordeiro, e que fosse morto e o seu sangue passado nas vergas das portas. Nada inicia sem um sacrifício e por Cristo. Mesmo antes da fundação do mundo o cordeiro já tinha sido morto (Apoc. 13.8). A criação não existiu antes do sacrifício de Cristo.
Quando Deus mandou Moisés construir o tabernáculo, que tudo tipificava a Igreja, a unidade entre judeus e gentios, a primeira peça a ser construída e introduzida no tabernáculo foi a arca do pacto que tipifica Cristo. E dentro dela três coisas: as tábuas da lei que mostra o caráter, a natureza divina de Deus em Cristo, o maná que tipifica Cristo como o pão da Vida, e a vara de Arão que tipifica o ramo cortado da terra dos viventes, mas que ressuscitou, e nos deu vida eterna.
Por isso que tudo o que é criado começa por Cristo e é para Cristo. Quando há uma queda, uma destruição, Deus envia a Sua Palavra, dá visão e começa a restaurar por Cristo. Sempre que Deus retorna para restaurar, Ele sempre inicia pelo seu Filho. Nada pode ser iniciado sem Cristo. Se todo desvio é dEle é lógico que temos que retornar para Ele.
Com a igreja primitiva também foi assim. Antes dEle subir ao céu ordenou aos seus discípulos que ficassem em Jerusalém, porque Ele enviaria a promessa do Pai, e do alto seriam revestidos de poder (Luc. 24.49). Depois de dez dias o Senhor derramou o Espírito sobre eles (Atos 1.8; 2.1-3). Tudo começa por Ele, porque o Senhor é o Espírito, e Ele também disse que estaria conosco todos os dias, até a consumação dos séculos. É a sua presença pelo seu Espírito.
No final, quando Deus criar novos céus e uma nova terra, o Senhor fará descer sobre ela a Nova Jerusalém. Esta nova cidade também será edificada como o jardim do Éden, à partir do seu centro, que nos mostra Cristo novamente, aquele que tem toda a preeminência: "No meio da sua praça, e de um e de outro lado do rio, estava a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês; e as folhas da árvore são para a saúde das nações" Apocalipse 22.2.
O primeiro Dia, como vimos, é Cristo, e o último também. Portanto, qualquer restauração que haja em qualquer tempo deve iniciar por Ele, porque nEle subsistem todas as coisas, e sem Ele, por melhor que seja, é sem forma, vazio, abismos, trevas, miserável, pobre, cego e nu.
Vamos continuar então a ver na Palavra, pela restauração do templo em Jerusalém como o Senhor caminha na restauração do seu testemunho. Vamos caminhar nos livros de Esdras e Neemias para compartilhar aquilo que o Senhor tem despertado em nosso coração. Uma pequena contribuição com alegria.
Tudo o que veremos a seguir segue falando de Cristo, o testemunho de Deus que precisa ser restaurado.
O ALTAR
Como vimos anteriormente, o Senhor nos faz primeiramente retornar à Sua Palavra, depois reacende a sua lâmpada trazendo visão espiritual, mas com o propósito de que Cristo tenha toda a preeminência. Ele é antes de todas as coisas, e tudo subsiste por Ele. O Alfa e o Ômega, o princípio e o fim de tudo. E como também vimos, toda restauração de Deus começa pelo seu Filho, porque Ele é o testemunho de Deus.
Como também já citamos, irmãos preciosos tem exaustivamente falado pelo Espírito, usando os livros de Esdras e Neemias para ensinar a Igreja sobre a restauração do testemunho do Senhor. Mas, como o orvalho de Hermon que desce a cada manhã sobre os montes de Sião, e o maná que é dado a cada dia também pela manhã, que o Espírito traga um frescor e um novo alimento para a Igreja de Jesus Cristo; o qual esperamos que Ele o faça em Nome de Jesus. As torrentes do rio Jordão começam com o orvalho que desce do Hermon. O pão nosso de cada dia, que desce dos céus, do trono de Deus, se torna doce em nosso paladar.
O Senhor antes de fazer a obra da criação realizou um grande projeto a partir do seu Filho Jesus (Heb. 11.10). Ele é o arquiteto e edificador dessa obra, e sempre que o homem se desvia desse projeto, desse propósito eterno de Deus em Cristo, Ele o faz voltar. Lembrando que todo desvio é de Cristo e para Ele temos que retornar, porque todo o prazer do Pai está nEle e toda a sua vontade será satisfeita. O que todos devemos temer, é que mesmo que este projeto já esteja acabado desde antes da fundação do mundo, Ele pode dizer em qualquer tempo na sua ira: "Não entrarão no meu descanso" Hebreus 4.3.
Olhando para este projeto, para este propósito eterno, vemos então, depois dos 70 anos do cativeiro na Babilônia, Deus restaurando a Sua Palavra que insistentemente foi enviada ao seu povo e desprezada, quando ainda estavam em Israel (II Cron. 36.15-16). Então Deus abriu os olhos de Daniel para ver pelas Escrituras que os 70 anos determinados ao povo de Israel tinha se cumprido (Dan. 9.2). Daniel então, apesar de não retornar a Jerusalém, teve a visão que Deus iria restaurar o templo de Israel, fazendo o seu povo retornar para a terra, e orou pelo povo.
Que coisa bendita é a oração segundo a vontade de Deus! Deus nunca se esquece da sua promessa. Mesmo diante da incredulidade e desprezo do homem, Ele sempre faz uma promessa, sempre jura por si mesmo (Heb. 6.13-18). Daí traz a luz à Sua Palavra aos remanescentes, para que estes unidos ao Seu coração possam orar e serem cooperadores na sua obra.
Assim Deus fez, não com todos a princípio, mas com os remanescentes, pois na restauração, eles sempre são os que cooperam com o Senhor. Deus então estimula os seus espíritos para subirem a Jerusalém para restaurar o templo (Esd. 1.5). A restauração é como um despertar de um sono para os remanescentes (II Cron. 36.22-23, Esd. 1.1).
É claro e notório que Deus tem feito uma restauração preciosa do seu testemunho em todo o mundo, e que muitos tem tido a graça de serem participantes; vendo a princípio, clamando e caminhando em cada ponto. Não usa a todos porque Deus segue o seu padrão como podemos ver na restauração do templo, mas o seu coração, apesar de usar os seus remanescentes, é para todos. Ainda que inicie com os apóstolos, profetas, mestres e santos aperfeiçoados, Ele deseja que todos cheguem (Ef. 4.13). Só não poderão entrar os que não crerem (Heb. 3.19).
Como Deus segue o seu projeto, o seu desenho inicial, a restauração do templo de Israel traz traços muito preciosos para nós olharmos como segue a restauração que Deus tem feito. O Senhor envia a Sua Palavra, traz a visão e a primeira coisa que restabelece é a primazia, a preeminência da Pessoa de Cristo. E isto vemos claramente na restauração do altar, depois dos alicerces, depois do muro e das portas, porque o templo ou o edifício somos nós, a Casa espiritual, a Sua Igreja.
A obra de restauração também requer paciência, não por causa de Deus, mas por causa da fraqueza do homem e dos combates do inimigo, o qual o Senhor deixa para que o seu povo conheça que Ele é o Senhor, e que goze de todas as vitórias alcançadas por Cristo. O Senhor deixa o inimigo para exercitar o seu povo (Jz. 3.1-2), tão somente para que por Cristo também sejam mais do que vencedores.
Desde que começaram a restaurar houve muitas interrupções, o que fez com que a obra estivesse acabada somente em 46 anos (Jo. 2.20). Com Davi e Salomão, como com Jesus, a obra de construção foi rápida, mas a restauração sempre demora mais. Para terminar são necessárias 2 gerações; uma que restaura o altar e os alicerces, e outra que restaura os muros com as suas portas.
A ordem deveria ser inversa, pois seria necessário restaurar os muros com as suas portas e depois o altar, mas vemos que Deus sempre inicia pelo seu Filho, e através do seu sacrifício. Lembremos que antes de Deus criar os céus e a terra, o seu altar foi a primeira coisa a ser levantado, pois o Cordeiro já tinha sido imolado, e o sangue já tinha sido derramado (Apoc. 13.8).
O altar é a primeira coisa a ser levantado e também a ser restaurado, porque o altar representa a Cristo e sua obra sacrificial na cruz. O homem ficou em inimizade contra Deus por causa da queda de Adão, e separado da vida de Deus (Ef. 4.18). Separado da vida de Deus e destituído da sua glória (Rom. 3.23), como filhos da ira (Ef. 2.3).
Para tornarmos a viver com Deus é necessário primeiro uma reconciliação, e ela só pode ser alcançada pela morte. Os pecados só são justificados com o sacrifício de um inocente, e o pecador com a morte (Isa. 22.14; Rom. 6.7). Portanto, é necessário que o pecador, ainda que seja colocado um substituto para o sacrifício, se identifique com aquele que está sendo oferecido em sacrifício. Abel ofereceu um melhor sacrifício, ele viu o Cordeiro de Deus ali, Cristo sendo sacrificado, como também se viu morrendo juntamente com Ele. Quando Deus justifica não vê a morte do substituto somente, mas também do pecador.
Cristo é o cordeiro que foi sacrificado, mas Ele também é o altar. Qualquer homem só pode viver com Deus se for incluído ali. Por isso Deus não aceitou a Caim e a sua oferta. Ele não viu necessidade de se reconciliar com Deus, portanto ele só pensou no sacrifício e não no altar. Pensou que poderia ser aceito como um pecador. Ele não viu necessidade de uma morte e de justificação.
Quando as Escrituras relatam que homens no passado levantaram altares ao Senhor, nos revela que eles estavam se entregando ao Senhor, estavam colocando as suas vidas sobre o altar - o altar é testemunho disso - como sacrifício pelo pecado, e também como consagração, para que em Cristo tivessem Vida.
Portanto, a restauração do altar restaura a vida do homem com Deus, tanto no que diz respeito à reconciliação quanto à vida espiritual a seguir. Com Deus e com a Igreja, pois a realidade da Igreja são homens e mulheres justificados pela fé, que agora também oferecem os seus corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. De homens e mulheres cristãos que foram perdoados, justificados e que agora se consideram mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus (Rom. 6.11). Quando o altar é restaurado toda a comunhão com o Pai, com o Filho, e uns com os outros também é restaurada.
Todas as coisas a serem restauradas por Deus dizem respeito ao seu Filho, por isso a restauração é do testemunho de Deus, que de seu Filho testificou (I Jo. 5.9), e o altar é a primeira representação dEle. Na figura do altar, como a primeira coisa a ser restaurada no templo, mostra que o Senhor restaura a obra de justiça de Deus em Cristo na cruz, no que diz respeito à salvação, perdão, justificação como também de santificação. A Palavra da cruz é loucura para os que perecem, mas para nós que somos salvos é o poder de Deus (I Cor. 1.18).
Sem o altar e o cordeiro a ser sacrificado, isto é, sem Cristo, nada começa com Deus. Deus não aceita o homem pecador para viver com Ele, pois luz e trevas não podem ter comunhão. Se alguém diz que conhece a Deus e anda em trevas é mentiroso (I Jo. 1.6). Por isso Deus começa pelo altar, começa pela reconciliação, começa em nada propor, senão a Jesus Cristo, e este crucificado (I Cor. 2.2), e depois continua com a santificação, até que sejamos perfeitos, à estatura de varão perfeito, à medida completa de Cristo (Ef. 4.13).
Não há obra de restauração se primeiro não for restaurado o testemunho do Senhor quanto à Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Nada inicia sem que o homem tome este Cordeiro e o ofereça em seu lugar a Deus, e se veja nEle, morto juntamente com Ele. E pela fé neste sacrifício seja justificado pelo sangue, morte e ressurreição de Cristo. O altar e o Cordeiro para o sacrifício, que são um só: Cristo Jesus.
O novo céu e a nova terra é testemunho disso. Lá não haverá mais altar, nem santuário, pois tudo será o Senhor e o Senhor será tudo (Apoc. 21.22). O que ficará é o testemunho do Cordeiro que foi morto, porque as chagas continuarão em suas mãos e pés pela eternidade. Tudo será esquecido, menos aquilo que iniciou a nossa reconciliação e vida com Deus; que Ele foi morto, mas agora vive pelos séculos dos séculos. Amém.
O FUNDAMENTO
Como vimos anteriormente, a primeira coisa que Deus restaura no seu testemunho é o altar, é a obra sacrificial de Cristo. Vimos que este altar já tinha sido levantado desde antes da fundação do mundo, e o Cordeiro já tinha sido imolado (I Ped. 1.19-20). Isto porque Deus não pode conviver com o mal, com o pecado do homem. Se este altar não tivesse sido levantado, quando Adão pecou, a ira de Deus o teria consumido.
Mas vemos claramente que a sua ira estava aplacada, porque logo em seguida, mesmo como pecadores, Deus lhes falou sobre a vinda de um filho da mulher que traria a Vida novamente (Gên. 3.15). E como resultado disso o Senhor os vestiu com peles; os vestiu com a justiça do Cordeiro ainda dentro do Éden, profetizando que ainda que fossem expulsos dali por causa do pecado, o homem retornaria ao jardim de Deus, e teria novamente acesso à árvore da vida. João entendeu isso quando disse: "(Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada)" I João 1.2.
Mas quando o povo de Israel, que retornou da Babilônia levantou o altar, e começou a sacrificar, encontrou dificuldades para reedificar o templo, tanto na oposição dos inimigos quanto na questão financeira. Então Deus levantou Ageu e Zacarias para profetizar ao povo. Que benditos são os profetas do Senhor! Quanto a Igreja necessita nesses dias de profetas levantados pelo Senhor para que a sua obra continue, ainda que haja grandes impedimentos. Para o Senhor não há impossíveis.
Deus começou esta obra e irá completá-la até o dia de Cristo. Talvez haja impedimentos por causa da fraqueza e incredulidade do homem, mas ela será completada naquele dia. O Senhor poderia realizar esta obra sozinho, mas aprouve a Ele nos fazer seus cooperadores; homens fracos, desprezíveis, sem sabedoria, sem nobreza, mas escolheu essa classe de homens, para que nenhum mortal se glorie na sua presença (I Cor. 1.27-29).
Mas algo que precisamos compreender claramente, como o Senhor nos ensina em Zacarias 4.6, ainda que Ele use homens para estar ao seu lado, com a função de auxiliar, - o que cabe à mulher, figura da Igreja -, não é pela força, nem pela violência que vem qualquer edificação, mas pelo seu Espírito. Normalmente o homem quer imprimir força nesta restauração, mas toda força que fizer, ainda que seja mínima, se tornará em violência para com a Igreja. Temamos isto!
O livro de Esdras e Ageu nos mostra claramente que quando Deus começa a restaurar o seu testemunho, achamos que se o altar for erguido já será o suficiente. Quando o Senhor começa a restaurar o seu testemunho, muitos acham que é suficiente pregar apenas a obra de justiça de Deus em Cristo na cruz. Se o evangelho da graça for pregado e vidas forem alcançadas por ele, Deus ficará totalmente satisfeito, mas isto é um engano. Deus quer uma Casa também; quer um edifício, quer que uma casa espiritual seja levantada, com sacerdócios santos e sacrifícios espirituais agradáveis a Ele por Jesus Cristo (I Ped. 2.5).
Primeiro é necessário que o altar seja levantado, porque não pode haver vida com Deus sem reconciliação, porque a restauração começa com um mediador e uma mediação entre Deus e os homens; o altar e o Cordeiro. Mas a partir da reconciliação Deus deseja que um edifício esteja bem ajustado, crescendo para templo santo no Senhor. Um edifício para morada de Deus no Espírito (Ef. 2.21-22). E este edifício começa pelo fundamento.
Deus usa uma expressão muito clara em Ageu quando fala que eles estavam forrando as suas casas, enquanto a casa de Deus estava destruída (Ag. 1.9). Pelas dificuldades achavam que ainda não era o tempo de se edificar, e estavam contentes apenas com o altar e os sacrifícios (Ag. 1.2). Por causa das dificuldades, muitos após a reconciliação com Deus, acham que ainda não é tempo de edificar. A partir da regeneração somos incluídos pelo Espírito em um corpo (I Cor. 12.12), para funcionar como membros neste corpo. O Senhor deseja que a edificação venha em seguida ao novo nascimento, e para isto enviou o seu Espírito. Não somente ver, mas entrar no Reino (Jo. 3.3-5).
Mas por causa da nossa fraqueza e falta de entendimento podemos ficar anos somente com o altar. Aí o Senhor envia os seus profetas para despertar os seus remanescentes, aqueles que iniciaram a restauração. O altar, isto é, a obra sacrificial de Cristo nunca será esquecida, mesmo que o propósito no momento seja a edificação. Não há edificação sem reconciliação, mas o Senhor também não quer somente a reconciliação, mas também uma habitação.
Por isso após ser levantado o altar, Deus inicia a sua restauração pelo fundamento, porque não há edificação sem fundamento. Até o altar, a restauração do testemunho do Senhor se dá apenas no que diz respeito à reconciliação, mas à partir do fundamento Deus começa a restaurar no que diz respeito à edificação. Primeiro somos reconciliados com Deus, mas a partir daí, como uma nação santa, um povo de propriedade exclusiva de Deus, Ele começa a edificação da Sua Casa, do templo santo no Senhor.
Em Hebreus, capítulo 11, no verso 10, o Senhor nos diz sobre o seu projeto em Cristo: "Porque esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o arquiteto e edificador é Deus". Neste verso o Espírito nos fala da obra do Pai, do seu propósito eterno em Cristo desde antes da fundação do mundo. Uma obra que foi projetada por Ele e está sendo edificada na Pessoa de Jesus Cristo.
O arquiteto é aquele que projeta e edifica a obra. O projeto de Deus é uma cidade que tem fundamentos, e vemos esta cidade em Apocalipse 21 e 22. Mas qualquer coisa que possa estar em qualquer projeto, deve ser todo posto primeiramente no fundamento. Não se pode edificar sem antes estabelecer o fundamento. Por outro lado, o fundamento também mostra toda a obra a ser edificada. Uma vez que o fundamento está pronto, está lançado, ele nos mostra - ainda que não haja nenhuma edificação - a obra projetada.
Isto nos ensina o quê? Que todo o projeto de Deus de edificação já está determinado na Pessoa de Cristo que é o fundamento. Quando olhamos para Jesus, como o fundamento, isto já nos dá uma visão do que está para ser edificado, do propósito eterno de Deus mesmo que não claramente aos nossos olhos em todos os seus detalhes. Em Cristo já podemos ver o que será o edifício e a cidade de Deus.
Outra coisa que o fundamento nos ensina, é que não é possível modificar a edificação depois, porque ela já está determinada pelo fundamento. Caso alguém queira fazer alguma modificação, teria que retirar o fundamento e lançar outro. Por isso é que este fundamento já foi lançado e tudo o que sair fora dele, tem que retornar para ele. Todo sábio construtor, como diz Paulo, começa pelo fundamento, e ninguém pode lançar outro, além desse que já foi lançado por Deus (I Cor. 3.10-11). Toda restauração, no que diz respeito à edificação, nada mais é do que retornar ao fundamento, retornar à Cristo.
Jesus é o fundamento desse grande projeto de Deus; é a pedra de edifício, a principal pedra de esquina (I Ped. 2.6). O fundamento de Deus fala de uma Pessoa, mas não uma pessoa individualmente, porque sobre este fundamento será edificada uma cidade (Apoc. 21.19). Esta cidade é a Sua Igreja, onde Cristo é o cabeça e a Igreja é o seu complemento (Ef. 1.22-23). Uma cidade que começa por um edifício santo, um edifício de pedras vivas, e que se tornará límpida como o jaspe cristalino (Apoc. 21.9-11).
Hoje ainda não vemos a cidade pronta, mas já podemos ver o fundamento e a edificação que o Pai já tem feito em seu Filho, a pedra eleita e preciosa (I Ped. 2.6). Podemos já pelo fundamento e pela parte que já está edificada, ter uma noção do que será esta cidade. Portanto, fiquemos cientes que o Pai não edificará em outro fundamento.
O Senhor terminará a sua obra. Ele não ficará confundido, e também ninguém zombará dEle porque começou e não pôde terminar (Lucas 14.28-29). Ele completará também em nós a sua obra, porque a Sua Glória não poderá ser ofuscada nesta cidade (Fil. 1.6). O fundamento de Deus permanece firme, e o seu propósito de edificação também. Toda edificação fora desse fundamento irá ruir (Mat. 7.26).
Por isso, como Ele diz em Ageu 2, dos versos 1 a 9, ainda que a sua Casa nesta restauração não seja como a primeira na sua glória, devemos olhar para a glória da última casa; porque a glória da última casa, que já nos é revelada pelo fundamento, será muito maior do que a primeira. Ainda que tenhamos muitas dificuldades, fraquezas, incapacidades e impedimentos, Ele nos diz que é para nos esforçarmos, e trabalhar, porque o seu Espírito habita no nosso meio. O ouro, a prata e as pedras preciosas para a edificação também é, e vem dEle.
A CASA DE DEUS
Olhando para a Palavra de Deus e para a restauração do testemunho do Senhor, vemos que a Casa de Deus só é edificada depois do altar e do fundamento. No princípio da Igreja também vemos esta ordem: Primeiro o Cordeiro de Deus sendo sacrificado, depois ressuscitado e andando com os discípulos por 40 dias. Ele sendo estabelecido como o fundamento, a pedra angular, e depois o Espírito sendo derramado formando e edificando o Corpo.
É que nós olhamos para o que vemos, mas Deus não vê como vê o homem. Todo o prazer de Deus está em seu Filho e quando Ele não vê o Filho, ainda que para nós, o que temos e vivemos pareça riqueza, para Ele é miserabilidade, nudez, pobreza, e cegueira (Apoc. 3.17). Na restauração, Deus não usa o que está caído, mas tira para fora as que são suas, e as faz retornar para Ele. Vai adiante delas e elas o seguem (Jo. 10.4).
Na restauração do segundo templo em Israel, todo o povo que foi despertado a restaurar não estava na terra, mas na Babilônia. Isto traz alguma luz para você? O que significa a Babilônia, ou Babel para Deus? Deus nunca edificará na Babilônia, por isso tira de lá as que são suas, e as traz para a terra, para Cristo, o lugar onde escolheu para ali por o seu Nome.
Igreja quer dizer isto mesmo: aqueles que ele tirou para fora. A Casa de Deus nunca poderá ser edificada em terra estranha. Nunca poderá ser edificada junto a outros deuses, e nunca poderá ser substituída por outro projeto, principalmente por um projeto humano. Mas queremos enfatizar algo importante: o povo na restauração é trazido da Babilônia. Não é a diáspora, no qual o povo volta de outras terras, mas na restauração da Casa o povo vem da Babilônia, do mundo religioso e idólatra.
Deus deseja uma Casa para Ele, e este é o seu projeto inicial. O projeto não era a salvação, mas uma edificação. A salvação só foi necessária por causa do pecado. Tanto é assim que quando Ele diz: "far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea" (Gên. 2.18), esta palavra "far-lhe-ei" no hebraico, seria melhor traduzido por 'edificarei'.
As Escrituras é muito clara quando afirma que nós somos a sua noiva e futura esposa; pedras vivas, edificadas à partir da pedra angular, do último Adão: Cristo. Deus não quer pedras apenas, e muito menos um monte de pedras espalhadas. Como diz o apóstolo Pedro, Cristo é a pedra angular, e nós achegados a Ele, isto é, uma pedra encaixada a outra pedra, e outras sendo postas acima das outras, a partir dEle, somos edificados como casa espiritual, para sermos sacerdócio santo, a fim de oferecermos sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo (I Pd. 2.4-5).
O escritor de Hebreus também se refere a esta edificação feita por Deus como a Sua Casa, quando diz: "Porque toda a casa é edificada por alguém, mas o que edificou todas as coisas é Deus. E, na verdade, Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar; mas Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim" Hebreus 3.4-6.
Esta Casa somos nós; são todos os que crêem. Tanto no tabernáculo, como no templo, a sua glória, o seu 'shekinah' só se manifestou porque tudo foi feito conforme o modelo que foi dado por Deus, e o modelo era do céu. O que era modelo se tornou realidade no dia de Pentecostes, quando a sua glória desceu sobre aquelas 120 pessoas. Após isso, permanece sobre a sua Igreja em todas as gerações, até o dia de hoje. A partir daí não foi mais necessário o templo, e ele foi totalmente destruído e segue até hoje. O povo de Israel quer reerguê-lo, mas Deus não necessita mais dele, pois já tem o seu santuário.
Em João 2, dos versos 13 a 21, Jesus profetiza acerca da sua Igreja. O título fala de purificação do templo, mas Jesus não desejava purificar aquele templo; naquele momento estava falando que aquilo que sempre foi uma figura, ia se tornar realidade nEle. O templo ao qual Ele se referia, era o templo do seu corpo, não o físico, pois já profetizava sobre a Casa do seu Pai, a Casa espiritual que é o seu Corpo, o qual Ele é a cabeça, e os filhos de Deus o seu complemento (Ef. 1.22-23).
Jesus chamou aquele templo de casa de negócios, porque tudo o que não é a Sua Casa, e que não tem a Sua Presença, a glória de Deus, é uma casa de negócios. Aquilo que por muitos é chamada de casa de Deus se tornou uma casa de negócios (Jer. 7). Deus não habita em templos feitos por mãos humanas. Se o Senhor Jesus não for o cabeça da igreja, se a sua Presença e a Sua Glória não estiverem nela, nunca irá considerá-la como a Sua Igreja.
Aquilo que se conforma ao mundo é chamado por Deus de Babilônia, que teve o seu início em Babel. As coisas de Deus se discernem espiritualmente, e tudo o que é aparente, visível, não pode ser chamado de Sua Casa. A Casa de Deus é um templo vivo, edificada com pedras vivas, a partir da pedra angular. Ela é espiritual, é celestial.
A Casa de Deus também não tem beleza exterior. Como no tabernáculo, a sua glória só podia ser vista no seu interior. Quem olhava de fora via algo esquisito, apenas peles de animais, mas o seu interior era glorioso. Por fora mostrava a humanidade de Cristo, mas por dentro a sua divindade.
Ao contrário do mundo que quer mostrar coisas visíveis e que sejam atrativas aos homens, a Igreja do Senhor não tem beleza nem formosura para que a desejem. Ela é pobre e fraca na sua aparência (Apoc. 2.9 e 3.8). Um dia será gloriosa, como pedra preciosíssima, diáfana como o cristal, mas hoje tem a mesma aparência do tabernáculo e de Cristo em sua humanidade. Quem a vê de fora não acha nada atrativo nela, porque a sua Glória está no interior, na Pessoa de Cristo, que é a vida dos seus santos e que está no meio do seu povo.
No tabernáculo, os pecadores só podiam entrar no átrio, somente os sacerdotes viam a sua Glória interior, e apenas o sumo sacerdote via toda a sua Glória no santíssimo. Hoje, como sacerdotes reais, podemos ver a Sua Glória e ministrar na Sua Casa. Somente o nosso Sumo Sacerdote conhece toda a Sua Glória. Somente Ele penetrou os céus fisicamente, mas já podemos gozar da Sua Glória na medida em que já somos a Sua Casa. E por Cristo, temos acesso ao santíssimo lugar, pelo caminho novo e vivo que Ele nos inaugurou (Heb. 10.19-20); este santíssimo é o nosso próprio Deus.
Se tentarmos visualizar a Casa de Deus, ou sem entendimento chamarmos um lugar de Sua Casa ou Sua Igreja, correremos o risco de perder aquilo que o Senhor tem edificado. Quando Deus deu a Moisés e a Davi o desenho da Casa, esse desenho era do céu. Hoje gozamos daquilo que é o verdadeiro tabernáculo que Deus fundou e não o homem (Heb. 8.2). Hoje vivemos a realidade daquilo que para eles era apenas um modelo, uma figura. Esta realidade é espiritual e não visível.
Se não olharmos com os olhos espirituais, vamos estar em grande confusão, e continuar causando divisões entre o povo de Deus. Todo filho de Deus ministra neste santuário, pois é um sacerdote real. Quando Deus olha para a Sua Igreja a vê completa, com Cristo como o cabeça dela, uma parte do seu complemento no céu, e outra aqui na terra (Ef. 3.14-15). Por isso três dão testemunho no céu, e três na terra, mas o Espírito é o único que dá no céu e na terra, porque este é o seu ministério, o de dar testemunho (I João 5.7-8).
A Casa de Deus ou a Igreja de Jesus Cristo são todos os santos no céu e na terra, e o Senhor Jesus a cabeça sobre todos. Por isso todo filho de Deus já chegou ao monte de Sião, à Cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, à Universal Assembléia e igreja dos primogênitos inscritos nos céus, e a Deus, ao juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, e a Jesus cabeça sobre todos (Heb. 12.22-24). Não é algo palpável como diz o verso 18, mas de fé. Um reino inabalável.
Se chamarmos um lugar de igreja, ou excluirmos qualquer irmão, mesmo alguém que já esteja no céu, ainda não entendemos o que é a Casa de Deus, ou a Igreja do Deus vivo. Como diz um irmão, se você disser que vai à igreja na quarta-feira ou no domingo, ou que esqueceu o guarda-chuvas ou a bíblia na igreja, você ainda não sabe o que verdadeiramente é a Igreja. O que chamamos de igreja, aquilo que é visível, palpável, o Senhor chama de mundo na parábola do joio e do trigo (Mat. 13.36-43).
A Casa de Deus é espiritual e só os verdadeiros adoradores conseguem vê-la. Como Jesus disse à mulher samaritana, quem adora no monte, ou precisa de um templo para adorar, adora o que não conhece (João 4.20-24). Deus é Espírito e tudo o que se relaciona com o seu mundo também é espiritual. Há muitos que se chamam adoradores, mas Deus procura verdadeiros adoradores, como disse Jesus, que o adorem em espírito e em verdade.
Em Hebreus 3.5, a Palavra diz que Moisés foi fiel sobre a casa de Deus como servo. Essa deve ser a nossa atitude para com a Casa de Deus. Ele com todo o conhecimento do Egito podia colocar as suas mãos e conhecimento para edificar o tabernáculo, mas não o fez, se portou como um servo fiel.
Davi também queria fazer uma casa para Deus, e Deus revelou a ele a Igreja quando disse: "...o Senhor te declara que ele te fará casa... senão que também falaste da casa do teu servo para tempos distantes" II Samuel 7.11 e 19. Se Deus deixasse Davi fazer uma casa para Ele, e com certeza ele já tinha o projeto em seu coração, como seria? Ele tinha capacidade e condições financeiras para fazer, pois já tinha feito uma linda construção para ele, mas Deus não aceitou o seu projeto, ainda que majestoso, porque certamente não expressava Cristo, mas a glória humana.
Deus é quem nos tem feito Casa. Ele é o arquiteto e edificador dessa obra. Na construção do tabernáculo e do templo Moisés e Davi foram servos fiéis, servos obedientes. Da mesma forma como o Senhor os guardou de fazerem uma casa para Ele, que o Senhor nos guarde também de fazer algo para Deus com as nossas próprias mãos, inteligência, e condições financeiras.
O MINISTÉRIO SACERDOTAL
A Casa de Deus é espiritual, mas ela tem a parte prática que é o serviço da Casa, ou o ministério sacerdotal. Como em toda a restauração de Deus, na restauração do seu testemunho, o ministério sacerdotal na Casa de Deus que pertence a Cristo também tem que ser restaurado. Paulo nos ensina em I Timóteo capítulo 1, no verso 12, que o serviço da Casa de Deus pertence a Cristo. Todo o ministério pertence a Ele, mas que aprouve a Ele nos colocar, no SEU ministério.
Por isso só há um ministério sacerdotal, o sacerdócio de Melquisedeque, o ministério eterno de Cristo. Todo filho de Deus é um sacerdote, e por ser segundo a ordem de Melquisedeque tem um sacerdócio real, e todo verdadeiro sacerdote estará ligado a este ministério e ordem. Um sacerdócio real e eterno de justiça e de paz (Heb. 7.2). Não um sacerdócio levantado pelos homens, mas pelo poder de uma vida indissolúvel (Heb. 7.16). Aleluia! Tudo é Cristo, e tudo é por Cristo.
Todo sacerdócio tem duas funções, ministrar coisas espirituais a Deus e levar aos homens instrução e conhecimento de Deus (Mal. 2.7). Ministrar a Deus e aos homens pela vontade de Deus (II Cor. 8.5). Cristo em nós é o apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão que necessitamos considerar (Heb. 3.1). Por isso todo filho de Deus é edificado como Casa espiritual e sacerdócio santo, a fim de oferecer sacrifícios espirituais. Mas só é possível ser agradável a Deus se for por Jesus Cristo (I Pd. 2.5).
Como vimos anteriormente, o modelo que Deus deu a Moisés e Davi era o modelo de um tabernáculo celestial. Ele era um modelo de Cristo, porque ele tomou um tabernáculo quando se fez carne (Jo. 1.14), e a partir da sua ressurreição estabeleceu um santuário celestial, que é o novo homem (II Cor. 5.1-2). Ele como o cabeça e nós como o seu Corpo, o seu complemento (Ef. 1.22-23).
Por isso temos que ver pelos olhos espirituais o verdadeiro tabernáculo de Deus (Heb. 8.1-2). No templo e no tabernáculo havia, podemos assim dizer, 4 partes: o santíssimo, o santo lugar, o átrio ou pátio exterior, e o arraial. Duas partes internas e gloriosas, e duas partes externas. Duas que são ministradas a Deus e duas que são ministradas aos homens, ainda que o pátio exterior e o arraial estivessem divididos por cortinas. Isto mostra uma diferença entre os pecadores, e isto veremos mais adiante.
Como vimos o pecador não podia ver a glória interior do santuário. Somente o sumo sacerdote e os sacerdotes podiam ver. Quem fazia o serviço do tabernáculo era somente Arão e seus filhos, mas isto não estava no coração de Deus desde o princípio. No princípio Deus queria que todo o povo fosse uma nação sacerdotal, e este continua sendo o Seu propósito hoje para todo filho de Deus (Êx. 19.6).
Quando somos transportados do império das trevas, para o reino de Cristo (Col. 1.13), somos feitos reis e sacerdotes sobre a terra. A partir daí não precisamos mais ver a glória de Deus somente na criação (Sal. 19.1), na parte externa deste tabernáculo celestial, mas recebemos, passamos a conhecer e ser transformados por esta glória na face de Jesus Cristo (Jo. 17.22, II Cor. 4.6, II Cor. 3.18). Depois de chamados e justificados, somos glorificados (Rom. 8.31).
O sacerdote podia entrar em três partes: no arraial, no átrio e no santo lugar, mas somente o sumo sacerdote podia entrar também no santíssimo lugar. Isto nos mostra que somente Cristo, além dos outros lugares, entrou fisicamente no santíssimo lugar, pois ele teve que sair e ser sacrificado fora da porta. Agora temos um homem, um sumo sacerdote que entrou no próprio céu para comparecer por nós perante a face de Deus (Heb 9.24).
Por Ele temos acesso ao santíssimo lugar em espírito e em verdade, pois o véu que separava já não separa mais; foi rasgado de cima para baixo. Fisicamente não podemos penetrar os céus, mas temos por Cristo, acesso ao Pai em um mesmo espírito (Ef. 2.18). E tudo o que Ele tem ouvido do Pai, nos tem dado a conhecer (Jo. 15.15).
Cristo está por nós, no próprio céu, assentado à destra de Deus, e nós como sacerdotes reais ministramos na Casa de Deus no santo lugar. Mas todo ministério sacerdotal é a Deus e aos homens. Por isso ministramos no santíssimo e no santo lugar a Deus e no átrio e no arraial aos homens, aos pecadores (Heb. 13.13).
Sem entrar em muitos detalhes, pois isto pode ser conhecido por livros e pela ministração de outros irmãos que considero mais capazes, gostaria de olhar com a ajuda do Espírito para o ministério sacerdotal em si, para os serviços que se fazem na Casa de Deus. Vermos por estas quatro partes e pelas mobílias internas do tabernáculo e do templo, quais são os serviços que Cristo ministra através dos seus santos, dos seus sacerdotes.
No santíssimo lugar temos o ministério específico de Cristo, como o sumo sacerdote, no santo lugar o sacerdócio de todos os santos que são feitos a Deus em Sua Casa. No pátio externo aos pecadores que estão se aproximando de Deus, se achegando para conhecer a Deus, e no arraial a todos os pecadores. Todos eles são ministérios de Cristo, mas um é específico dele como sumo sacerdote e três são dEle através dos santos.
Por isso todo homem que ministra algo espiritual e verdadeiro, aceitável e na presença de Deus, só é possível por Jesus Cristo (II Cor. 12.19). Portanto, o título pertence somente a Ele; seja de apóstolo, profeta, pastor, mestre ou qualquer outro ministério, a glória pertence a Ele. Somente nEle está todo o prazer de Deus, e nós só podemos ser agradáveis, ou aceitáveis a Deus no Amado (Ef. 1.6). Todo o que se gloria, glorie-se no Senhor. Tomemos o encargo e deixemos o cargo e a glória para quem é digno.
O primeiro ministério interno a Deus era realizado pelo sumo sacerdote no santíssimo lugar. Cristo como o nosso sumo sacerdote inaugurou por nós um caminho novo e vivo, através do véu, isto é, da sua carne. Hoje podemos entrar por Ele na presença de Deus com inteira certeza de fé, porque com o seu sangue ele purificou todas as coisas (Heb. 9.26); Ele nos comprou, e nos fez reis e sacerdotes para Deus (Apoc. 5.10).
Dentro do santíssimo lugar estavam a arca da aliança e o incensário de ouro (Heb. 9.3-4). Do incensário vamos falar depois, junto com a mesa dos pães e o candelabro de ouro, porque estas peças falam dos ministérios sacerdotais dos santos. Ainda que estivesse no santíssimo, vamos incluí-lo com as outras duas peças, porque como o véu não existe mais, e ele ficava defronte do véu que separava o santíssimo do santo lugar, foi incluído agora para ser ministrados não somente pelo sumo sacerdote, mas por nós também, como um serviço mútuo.
A arca é a primeira peça a ser colocada no tabernáculo porque ela representa a aliança que Deus fez conosco por Cristo, e também porque tudo começa por Cristo; tudo provém dEle. A arca e todas as peças que a compunham, tanto externas como internas, representam tudo o que já está consumado em Cristo na presença de Deus. Tudo o que já está em Cristo e que agora está sendo conformado em nós, os seus filhos. Ele é o varão perfeito que já está assentado nos céus, e que através do seu ministério, do ministério da cabeça, todos os santos estão sendo conformados à sua imagem.
A arca na parte externa nos revela a humanidade de Cristo, que como homem morto e ressurreto, trouxe uma reconciliação e uma comunhão perfeita de Deus com o homem que foi morto e ressurreto juntamente com Ele. Tudo na base da justiça pelo sangue que satisfez toda a exigência de Deus (Rom. 3.21-22, 8.3-4), diante de um trono de graça e misericórdia (Heb 4.16). Tudo diante dos olhos do Pai e do seu Espírito representado pelos dois querubins de glória (Heb. 9.5).
Na parte interna da arca mostra a divindade de Cristo e os seus atributos, que é o propósito de Deus para que todo filho chegue, isto é, à estatura de varão perfeito. Lá tinha as tábuas da lei que representa o caráter e a santidade de Cristo na nova criatura; o vaso de ouro com o maná, que é o pão que dá vida e que alimenta todo homem, pois comemos desse pão, mas também somos pão para outros por Cristo; e por último a vara de Arão que mostra a vida ressurreta, eterna e frutífera de Cristo em nós, diante de Deus pela eternidade.
Depois do santíssimo, temos o santo lugar. No momento iremos deixar o santo lugar e o altar do incenso para a última parte deste estudo sobre a restauração de Deus, que fala do serviço sacerdotal de todos os santos, e ver agora qual é o nosso ministério sacerdotal em favor dos homens pecadores. O serviço no pátio externo, onde os sacrifícios eram realizados, e fora das portas, para fora do tabernáculo, dentro do arraial.
Deus mandou colocar o tabernáculo fora do arraial porque Ele desejava que todo aquele que fosse ao tabernáculo, fosse para se aproximar de Deus. Fosse verdadeiramente para O buscar, e não por obrigação, ou porque ao vê-lo se recordava (Êx. 33.7). O pátio externo nos ensina o serviço da Casa de Deus em apresentar a Cristo e este crucificado aos homens que estão sendo chamados por Deus, aos pecadores que estão se achegando a Deus para O buscar. Estes são como fala Paulo em I Coríntios 14.24-25, para serem convencidos e julgados por todos, e para que os segredos do seu coração sejam manifestos.
Já o arraial, isto é, fora da porta como nos diz Hebreus 13.13, nos ensina o serviço sacerdotal quanto à pregação do evangelho a toda criatura. É o ide de Jesus por todo o mundo (Mc. 16.15). Todos estes são ministérios de todos os santos, de todo sacerdote real e não de algum grupo especial ou qualificado de irmãos. Como veremos a seguir, todos ministram dentro e fora na Casa de Deus; ministram coisas espirituais a Deus e aos homens. Como Cristo, pois é por Ele, cuidam das coisas do Pai, e crescem em sabedoria, estatura e em graça diante Deus e dos homens (Luc. 2.49-52).
Algo importante também lembrar é que os sacerdotes não ficavam todo o tempo no ministério, ou no serviço da Casa. Eles continuavam sendo sacerdotes, mas tinham os turnos de serviço (Luc. 1.8, I Cron. 9.25), e o restante do tempo cada um cuidava da sua casa. Isto nos ensina que os que são casados não podem estar todo o tempo no serviço, pois tem também que cuidar da sua casa. Como nos ensina Paulo em I Coríntios 7.33-34, toda pessoa solteira pode e deve cuidar somente das coisas do Senhor, mas o que é casado estará dividido, pois terá também que cuidar das coisas do mundo em como há de agradar a sua esposa, e em governar a sua casa.
As duas instituições, a Igreja e a família foram criadas por Deus, e, portanto, são importantes e necessárias de serem cuidadas diante dEle. Em seguida queremos olhar para o serviço dos sacerdotes que se faz na Casa para Deus. Os sacrifícios espirituais agradáveis a Deus que estamos sendo edificados para cumprirmos de forma graciosa. Que o Senhor nos dê graça para enxergar e andar.
A MESA DOS PÃES DA PRESENÇA
Como vimos anteriormente, o ministério sacerdotal pela figura do tabernáculo ou do templo são figuras celestiais (Heb. 9.23, 8.1-2). São coisas espirituais que dizem respeito a Cristo, o testemunho de Deus a ser restaurado. Por serem espirituais e celestiais eles devem ser vistos com olhos espirituais, por fé e por revelação do Espírito de Deus.
A figura do santíssimo, do átrio e do arraial como vimos, agora sem o véu que separava o santo do santíssimo, nos revela a Deus, que está assentado no seu trono de glória, e chega por Cristo ao homem pecador para buscar e se reconciliar com ele, na base da justiça do sangue, da morte e ressurreição do seu Filho, o Cordeiro de Deus. Como Deus já veio ao homem pecador por Cristo, agora o pecador também pode ir a Deus, se reconciliar com Ele por Cristo, e entrar com ousadia no santíssimo para O conhecer (Heb. 10.19-20).
Todo este serviço da Casa de Deus que se faz a Deus e aos homens pela vontade de Deus é feito pelo ministério sacerdotal de Cristo através dos filhos de Deus, os sacerdotes reais. Agora com a graça e misericórdia do Espírito, gostaríamos de ver o serviço que se faz a Deus no santo lugar, e depois no santíssimo em comunhão com os espíritos dos justos aperfeiçoados, e com Cristo. Vermos pelo tabernáculo o testemunho de Deus, isto é, a Pessoa, obra, ministério, e o fruto da alma de Cristo que o deixou satisfeito (Isa. 53.11), a sua amada Igreja.
O tabernáculo também mostra o nosso tempo, a Igreja ainda num processo de santificação, sendo retiradas as rugas e as manchas. Por fora, isto é, no átrio e na aparência externa do tabernáculo a nossa carne. O santo lugar é a nossa alma e o santíssimo o nosso espírito. Este é outro lado da figura do tabernáculo, mas que também mostra a Igreja em processo de edificação (Mat 16.18, Ef. 2.22).
O templo, apesar de ser uma figura e não ter agora mais nenhum valor, mostra a Igreja gloriosa; mostra a Casa de Deus para tempos distantes como disse Davi (I Cron. 17.17)), já edificada em glória e em excelência (I Cron. 22.5). Tudo o que no tabernáculo era 1, no templo era 10, isto é, mostra a totalidade. Inclusive dentro da arca no templo não havia mais o maná, nem a vara de Arão como no tabernáculo, somente as tábuas da lei. Isto nos ensina que tudo cessará, mas permanecerá a sua justiça e a sua verdade escritas nas tábuas do coração (Heb 8.10, II Cor. 3.3), que são desde a eternidade e duram para sempre (Sal. 119.160).
No tabernáculo, dentro do santo lugar havia a mesa dos pães da preposição, e o candelabro de ouro (Heb. 9.2). A mesa era colocada do lado oposto do candelabro que vamos ver a seguir, para que a mesa, os pães e os que ministravam à mesa fossem iluminados. Somente os sacerdotes podiam participar e ministrar nesta mesa (Lev. 24.9). Só eles podiam preparar os pães, apresentá-los diante de Deus por sete dias, e comê-los depois (Lev. 24.5-9). Isto nos ensina que somente os filhos de Deus podem participar desta mesa.
Como já falamos, não vamos entrar nos detalhes dos móveis, mas no que eles representam como ministério sacerdotal dos filhos de Deus. A mesa dos pães representa a comunhão dos santos, a comunhão do Corpo de Cristo; a comunhão santa de todos os santos no alimento espiritual que procede do pão da vida que é Cristo e de Cristo por nós, pois também somos pão para Ele e para os outros irmãos. A oferta continua de alimento espiritual (Nee. 10.33). Esta é a mesa do Senhor como diz Paulo em I Coríntios 10, versos 16 e 17.
Por isso eram 12 os pães da proposição, os pães da presença (Lev. 25.30). A mesa fala da comunhão de Cristo pelo homem, por isso o número 12. A Mesa do Senhor é o gozo de Deus em Cristo expresso no homem e através do homem {6 + 6 (Eram colocados em duas fileiras. O 6 é o número do homem)}. As tribos de Israel e os apóstolos têm o mesmo número porque todos expressam o gozo de Deus no homem, e através do homem que ministra sacrifícios espirituais a Deus, como sacerdotes reais que são.
Os doze pães também significam que na mesa do Senhor nada falta. Nenhum ministério ou dom falta para esta comunhão no Espírito. A mesa nos revela a plenitude ministerial de Cristo nos seus santos. Na Casa de Deus não cabe o monólogo, nem um monopólio. A mesa é a comunhão, a ministração de todos os ministérios e dons de Cristo através de todos os santos. No homem (6) e pelo homem (6) a Deus (6 + 6 = 12).
A mesa mostra algo precioso também com o número 12. Tanto o tabernáculo, como o templo, a Igreja como a cidade e a própria mesa tem a forma quadrangular e não triangular, figura do engano, da trindade maligna, porque o seu propósito eterno é a comunhão do Pai, do Filho, do Espírito com o seu povo, a sua Igreja. Os dons são do Espírito, os ministérios de Cristo e as operações de Deus (I Cor. 12.4-6), e nós os cooperadores nessa comunhão, mas Deus é o que opera tudo e em todos {3 (Trindade) x 4 (Quatro lados)= 12}.
A mesa mostra que todos ministram o pão a todos e comem deste pão. A mesa mostra que todo ministério que não apresenta a Cristo a Deus é falso. Todo sacerdote real se alimenta de Cristo e apresenta Cristo para a comunhão dos homens. Como vimos, o ministério sacerdotal na mesa é para Deus, pois está no santo lugar. Por isso é que falamos de Cristo na presença do próprio Deus (II Cor. 2.17, 4.12).
Eles eram apresentados por sete dias, isto é, todos os dias da semana. O pão estava de forma continua. Isto nos ensina que a comunhão não depende de lugar ou horário, mas é continuo diante de Deus com Cristo e com todos os santos. Mesmo que tenhamos momentos pessoais de comunhão com alguns irmãos, a nossa comunhão em espírito e no Espírito é continua. Para a comunhão com o Senhor e com os santos não existe limite de espaço ou tempo.
Isto é algo muito importante de compreendermos porque achamos que para a comunhão é necessário estarmos fisicamente presentes. Se fosse assim o Senhor não poderia dizer que o povo de Israel perseverava na comunhão (Atos 2.42). Eram oito mil os discípulos em Jerusalém, e na maioria das vezes eles se reuniam nas casas (Atos 2.46). Imaginando que em média coubessem 30 pessoas em uma casa, e se alguém procurasse não estar na mesma casa todos os dias, um discípulo demoraria cerca de um ano para estar com todos os irmãos. Mas se prosseguisse neste propósito, já na primeira mudança de casa perderia a comunhão com os primeiros.
Amados irmãos, como é difícil compreendermos as coisas espiritualmente! E depois que todos foram espalhados, não tiveram mais comunhão? Claro, em todo o tempo, e isto nos mostra a mesa dos pães da proposição. Paulo também diz sobre a família no céu e na terra que tomam o nome (Ef. 3.15). Você não tem comunhão com eles, com os que já dormiram em Cristo? Claro que sim. E com Cristo? Temos plena comunhão com Cristo. Se para esta comunhão fosse necessário estar fisicamente presente, então não poderíamos ter comunhão com o próprio Senhor, só com o seu Espírito.
A mesa mostra claramente que a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo. A comunhão é um ministério sacerdotal pelo Senhor, mas diante de Deus. Cada um de nós foi chamado individualmente para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo (I Cor. 1.9). Esta é a comunhão para a qual somos chamados, mas também temos comunhão uns com os outros (I Jo. 1.3-4), e onde estiverem dois ou três reunidos no seu nome, aí Ele está. Para que haja comunhão é necessário que a sua Presença esteja. Sem Ele não há comunhão. Não há pão, e não pode ser agradável ao Senhor. A comunhão é daquilo que é comum em nós: Cristo. Comunhão sem Cristo é um mero movimento social; é um humanismo.
Mas há o outro lado também, a comunhão uns com os outros. Não podemos desprezar a parte prática, a comunhão pessoal, pois os sacerdotes tinham que estar presentes para fazerem o pão e apresentarem perante o Senhor cada dia; mas eram alguns e não todos os sacerdotes. A parte visível da comunhão para nós é a Ceia do Senhor. Mas por ser prática não deixa de ser espiritual. Paulo diz: "Porventura o cálice de bênçãos que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do Corpo de Cristo? Pois nós, embora muitos, somos um só pão, um só corpo; porque todos participamos de um mesmo pão" I Coríntios 10.16-17.
A comunhão do sangue de Cristo é que todos foram perdoados e reconciliados com Deus pelo mesmo sangue. E não somente isto, pois a comunhão do sangue vai além, ela também inclui a ministração do perdão uns aos outros (Ef. 4.32). Com o pão é a mesma coisa, pois fomos incluídos no mesmo corpo partido de Cristo, e todos agora participam do mesmo alimento espiritual, como também somos pão para o Senhor e para os outros irmãos.
Se há uma coisa que necessitamos de revelação é a ceia do Senhor. A ceia não pode ser um mero formalismo, mas necessitamos entender que quem parte o pão é o próprio Senhor. Ele é quem disse: “Este é o meu corpo que é partido por vós” I Cor. 11.24. Assim como aconteceu com os dois discípulos no caminho de Emaús, Ele é quem parte o pão, e no partir os nossos olhos são abertos e o nosso coração deve arder (Luc. 24.30-32).
Como no corpo alguns membros são mais próximos de outros, no Corpo de Cristo sempre haverá alguns membros que estarão mais próximos uns dos outros. Não podemos exigir que os dedos da mão tenham a mesma proximidade com os dedos do pé do que tem com a mão, com o braço e o antebraço. Não é porque não estamos tão próximos fisicamente que não estamos vivendo em comunhão, como UM. Estão vivendo no corpo e todos têm igual comunhão com a cabeça e uns com os outros.
Gostaríamos de ter comunhão pessoal e física com muitos irmãos, mas isto é praticamente impossível. Neste exato momento há muitos irmãos que estão exercendo o seu sacerdócio e que nem conhecemos em vários lugares do mundo. Apesar disso a nossa comunhão com o Pai, com o Filho e com todos os santos que estão na terra e no céu pode ser em todo o tempo, no Espírito. Não é porque não estamos fisicamente presentes que não podemos ter comunhão com Cristo, com Davi, Moisés e outros que nem conhecemos.
Por isso ainda que Deus visse 12 pães, via neles um só pão e todos comendo de um mesmo pão. Isto é claramente representado pelas 12 pedras que Elias juntou quando reparou o altar do Senhor. Ainda que as tribos estivessem divididas, Ele via um só povo (I Reis 18.31-32). Deus dá testemunho do seu Filho e não de unidade. Se Ele não dá, porque nós queremos dar? Unidade ou comunhão é em Cristo, e ela somente pode ser vista por Deus. Se a unidade fosse mostrada de forma visível não seriam 12 pães, mas somente um. Eram doze as tribos, e eram doze os apóstolos, mas eles mostravam um só povo, um ministério (Atos 1.17), e só um Senhor. Há um só corpo.
Este foi o pecado do homem quando quis edificar em Babel uma torre. Gênesis 11, o verso 1 diz que eles eram UM. Mas aí eles quiseram fazer algo para que essa unidade deles permanecesse, então disseram: "Eia façamos..., Eia edifiquemos..., façamos um nome..." (v.4). O pecado é não crer; não crer no que Deus fez, no que Deus vê e se alegra. Querer fazer é não ter comunhão com Ele, é estar fora do descanso de Deus: “Porque aquele que entrou no seu repouso, ele próprio repousou de suas obras, como Deus das suas” Hebreus 4.10.
Quando falamos de comunhão pensamos de forma egoísta. Desejamos estar em comunhão para benefício próprio, e muitas vezes até escolhemos pessoas, mas na mesa vemos que esta comunhão é para Deus e não para nós. Para que esta comunhão aconteça realmente é necessário que sejamos do mesmo trigo, daquele que caiu na terra e morreu; sermos fruto dEle. Depois temos que ser triturados juntos, tornando-se uma fina farinha, onde se perde a identidade. Depois amassados e unidos pelo óleo do Espírito.
Mas não somente isto, depois temos que ir para o forno para sermos pão, temos que ser provados na fornalha. Como tudo que é edificação provém dEle, o fogo também o é, porque tem que vir na temperatura e no tempo certo; só o Senhor sabe como provar, e o tempo da provação. Há muito trabalho de Deus em nós para que sejamos massa nova e pão para a comunhão, mas tudo é para o homem e pelo homem. Deus faz tudo através dos seus sacerdotes, porque é algo espiritual; é dEle, por Ele e para Ele.
Como falamos anteriormente, temos que ver as coisas de Deus de forma espiritual, porque senão teremos muitas dificuldades para entendê-las. Elas só podem ser entendidas espiritualmente, reveladas pelo Espírito. É para isto que recebemos o Espírito que provêm de Deus (I Cor. 2.12-13). Mesmo que alguém não esteja ministrando na mesa do Senhor, que esteja cuidando das coisas do mundo há outros que estão, pois os serviços na Casa de Deus são contínuos, em todo o tempo, nunca cessam. Aleluia!
O CANDELABRO DE OURO
Como vimos anteriormente, o ministério sacerdotal pela figura do tabernáculo ou do templo são figuras celestiais (Heb. 9.23, 8.1-2). São coisas espirituais que dizem respeito a Cristo, o testemunho de Deus a ser restaurado. Por serem espirituais e celestiais eles devem ser vistos com olhos espirituais, por fé e por revelação do Espírito de Deus.
A primeira mobília que vimos - não na ordem que eram colocadas no tabernáculo ou no templo -, é a mesa dos pães da proposição. Toda a mesa é Cristo, aliás, tudo é Cristo. Se Deus olhar e não ver o seu Filho não irá ter prazer, porque todo o seu prazer esta em seu Filho. E nisto também se refere a restauração que temos visto, a restauração do testemunho do Senhor.
A mesa nos ensina a restauração no que diz respeito à comunhão, mas esta comunhão só é possível em Cristo e na Luz da Sua Palavra pelo Espírito. Não é possível haver comunhão sem Luz, por isso Deus colocou do lado oposto à mesa o candelabro de ouro. O candelabro iluminava o ambiente e a mesa dos pães. O candelabro era todo de ouro, inclusive os utensílios para a limpeza dos pavios. Isto nos ensina que tudo provêm de Deus, tudo é divino, tudo tem que ser por Cristo. Os homens podem ser instrumentos, mas na Casa de Deus só Ele pode operar algo que tenha valor espiritual, ou valor eterno.
A Igreja também tem a figura do candelabro porque a sua função é ser luz para o mundo (Apoc. 1.20). A Igreja é como uma cidade edificada sobre um monte que não se pode esconder (Mat. 5.14). Que preciosa figura Jesus dá aqui! Mas quão pobre é pensarmos que Ele está falando de um lugar de reunião, ou daquilo que chamam de igreja. Os dois versos seguintes, isto é, o 15 e 16 do mesmo capítulo 5 de Mateus, Jesus não deixa dúvida quando diz que a luz é Ele em nós, resplandecendo diante dos homens: "Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus". Nós somos a candeia e Ele é a luz.
Na mesa havia 12 pães como vimos, porque ela é o gozo do Senhor por Cristo no homem e através do homem, mas no candelabro, apesar da luz irradiar pelas lâmpadas que são os santos, os sacerdotes reais, tudo provém de Cristo, do Espírito de Cristo. O candelabro não era de madeira de acácia coberto de ouro, mas era de ouro puro. Tudo nEle era divino, tanto o óleo como o fogo proveram de Deus (Lev. 9.22-24). Isto nos ensina que mesmo que a Luz na Casa de Deus venha através dos homens, para ser luz verdadeira, tudo deve provir somente de Cristo. Caso contrário será fogo estranho.
O ministério da Palavra não cabe a carne do homem. No ministério da Palavra nada pode ser do homem, nada do EU pode ser usado. Como podemos ver Cristo se manifesta através dos homens, mas só o que provém dEle pode ser santo e ter algum valor espiritual a Deus. Todo o serviço da Casa de Deus no santo e no santíssimo é a Deus, mas como podemos ver, só pode ser agradável a Deus se for por meio de Jesus Cristo. Para isso temos sido edificados e aperfeiçoados como sacerdotes reais (Heb. 13.21).
O candelabro, a Luz do Senhor por Cristo, pelo ministério da Palavra manifestado pelo Espírito é que se mantém acesa a comunhão entre os santos, a comunhão na mesa do Senhor. Sem esta Luz a comunhão não seria agradável. Não há comunhão sem a Palavra, pois tudo é no Espírito. O candelabro é a figura dos ministérios da Palavra vindos por Cristo através dos seus santos, trazendo justiça, paz e alegria no Espírito Santo, como também edificação, consolação e exortação (I Cor. 14.3).
As Escrituras confirmam isto quando diz que no tempo de Samuel esta lâmpada estava se apagando (I Sam. 3.3). A Palavra de Deus era muito rara, isto é, não havia visões freqüentes (v.1). Sabemos que não havendo visão, não havendo luz o povo se corrompe (Pv. 29.18). O candelabro sem luz perde a sua função (Apoc. 2.5), por isso era mantido sempre aceso, e cuidado para que a Luz do Senhor se mantivesse na maior intensidade.
Para que mantivesse a maior intensidade de luz os pavios eram aparados para que fosse retirada a parte queimada. Como lâmpadas que somos, o Senhor cuida para que esta luz resplandeça sempre e intensamente através de nós (Isa. 60.1); mas como vimos, isto não é obra do homem e sim divina, pois a espevitadeira e o cinzeiro também eram de ouro. Só o Senhor sabe a necessidade de cada um; só Ele sabe qual a medida e qual o tempo de nos limpar. Alguns homens tomam isto para si, tomam lugares de destaque e com ele passam a direcionar os irmãos. Alguns se põe até no lugar do cabeça, como cobrindo outros irmãos, mas na verdade estão usurpando um lugar que não lhes pertence. Com certeza darão conta disto.
O candelabro mostra que a manifestação de Deus a nós é pela Sua Palavra (I Sam. 3.21). Desde o princípio da criação do homem é assim. No jardim do Éden Adão e a mulher não viram nada, mas a comunhão inicial e também depois do pecado com Deus foi pela Sua Palavra. Assim também é com Cristo e com todos os irmãos. Não há comunhão fora de Cristo e fora da Sua Palavra. Assim é que o Senhor se manifesta a nós, e assim é que temos comunhão uns com os outros: em Cristo por Sua Palavra.
A Palavra de Deus é ministrada em todo o sacerdócio, no que diz respeito a Deus e no que diz respeito aos homens. Tanto no santíssimo, como no santo, no átrio e no arraial, a Palavra de Deus é o instrumento de ministração dos sacerdotes. Por isso Isaías diz no capítulo 55, no verso 10 o seguinte: "Porque, assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come, assim será a minha palavra, que sair da minha boca".
A Palavra de Deus que sai da boca de Deus tem duas funções: dar semente ao que semeia e pão ao que come. A semente é para ser ministrada aos homens no átrio e no arraial, e o pão é para ser ministrado a Deus no santo lugar. Não comemos a semente, mas comemos o pão e semeamos a semente. O pão é lançado sobre as águas e a semente na terra (Ecl. 11.1, e 6). Um para a regeneração e o outro para a santificação.
O candelabro junto com a bacia de bronze eram as únicas peças que não tinham medida, o que nos revela que não há medida para a Luz do Senhor ao seu povo, nem o seu poder purificador. E também a luz era mantida acesa, mostrando que esta luz será pela eternidade. Vida eterna é conhecer a Deus e a Jesus Cristo (Jo. 15.3).
Mas ele também traz algo precioso porque era forjado em uma só peça. Era uma obra de artífice, de ouro batido (Êx. 25.31). Isto nos ensina que todo ministério da Palavra é de Cristo através dos homens, mas não há ministério pessoal; não há ministério em favor de algo que não seja a Igreja de Cristo.
O candelabro estava no santo lugar porque ele tem o aspecto do testemunho antes da obra. No ministério da Palavra todos tem um só ministério, o ministério de Cristo (At. 1.17, I Tim. 1.12). Todo ministério sacerdotal é na Casa de Deus com um único propósito, porque há um só corpo. Todo ministério visa a edificação do Corpo de Cristo. Na Casa de Deus todos procedem de uma só ordem sacerdotal, de um só seminário ou escola, a do Espírito de Deus. Todos são ensinados por Deus (Jo. 6.45).
Da haste central saíam seis braços, três de um lado e três de outro (Êx. 25.32). Sempre que olharmos para qualquer peça nunca podemos nos esquecer que tudo revela a Cristo, e se há algum aspecto humano, sempre é por Cristo. Porque além de tudo ser dEle, tudo é por Ele, e tudo é para Ele. Todo o trabalho de Deus em nós é que Ele seja tudo em todos.
O candelabro tem a figura de irradiar luz através de Cristo que é o próprio candelabro com as suas sete pontas que são os sete espíritos do Senhor (Apoc. 3.1, Isa. 11.2), para que na Sua luz possamos ver a Luz (Sal. 36.9). No candelabro havia sete lâmpadas, mas mostra pela haste central que nEle há uma unidade, há uma só luz, um só Espírito. Esta unidade também é mostrada na figura da Igreja como o candelabro nos sete elementos de Efésios capítulo 4, nos versos 4 a 6 que são: Um corpo, um Espírito, uma vocação, um Senhor, uma fé, um batismo e um Deus de todos, que é sobre todos, por todos e em todos. Uma só peça, todo de ouro, tudo por Deus.
Mas o candelabro também tem a figura do ministério sacerdotal de Cristo através dos filhos de Deus como Igreja, que são lâmpadas. O candelabro que ilumina o ambiente é a luz para a comunhão (I Jo. 1.5), com e através de todos os santos que são as lâmpadas. Todo o serviço prestado ao Senhor é realizado à Luz da Sua Palavra, através das lâmpadas que é o espírito do homem (Pv. 20.27), mas todos mantendo uma perfeita unidade.
Na figura do candelabro, a haste central é Cristo, porque tudo sempre provém dEle. Agora os três braços à esquerda e os três braços à direita revelam também os ministérios de Cristo através dos seis ministérios da Palavra que se faz pelos filhos de Deus. O número 6 é o número do homem, mas os 6 braços representam os braços do Senhor manifestando a sua graça e poder através do homem (Sal. 89.13, Isa. 53.1).
Em Efésios capítulo 4, nos versos 11 e 12, também temos os seis ministérios da Palavra a favor dos santos, entre eles os apóstolos, os profetas, os evangelistas, os pastores, os doutores, e os santos aperfeiçoados. Os cinco ministérios que equipam os santos para que esses possam fazer a obra do ministério para a edificação do corpo de Cristo. Apesar de sabermos que são cinco os ministérios da Palavra, os ministérios dos santos não são sem a Palavra. Todos por Cristo iluminam a Casa de Deus, e tudo pela Sua Palavra.
Mas há algo precioso também no candelabro que diz respeito ao ministério sacerdotal dos santos através da Luz da Sua Palavra. É que no candelabro tinham taças, botões e flores (Êx. 25.33-36), e a soma de todas as peças dá 66, isto é, corresponde aos 66 livros da Bíblia. 66 porque foram escritos para o homem.
Mas não somente isto, se tomarmos os três braços da parte esquerda do candelabro e somarmos todas as peças, e depois somarmos com as doze peças do pedestal ou haste central temos o número 39 que representam os 39 livros do Antigo Testamento. O que sobra são as 27 peças dos 3 braços da direita que corresponde aos 27 livros do Novo Testamento. Os doze do meio são considerados os profetas menores, mas são os que fazem a ligação preciosa entre o Velho e o Novo Testamento. Muito precioso e revelador.
Como a mesa da proposição mostra a comunhão de todos os santos, dos que estão nos céus e dos que estão na terra, o candelabro também ilumina a comunhão dos que estão na terra com os que estão nos céus. Ele mostra a obra do Espírito dando testemunho a toda a família de Deus nos céus e na terra (Ef. 3.15). Por isso Ele diz em Levítico 24, dos versos 1 a 4: "a fim de manter a lâmpada acesa continuamente... desde a tarde até a manhã... conservará em ordem as lâmpadas perante o Senhor continuamente".
Como já vimos em I João no capítulo 5, nos versos 7 e 8 três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito, e estes três são um. E três são os que testificam na terra: o Espírito, a água, e o sangue, e estes três concordam num. Agora não são mais as figuras daquilo que é celestial, mas a realidade celestial, a realidade divina e espiritual que procede do céu. Não são ministérios figurativos, mas a realidade do Espírito naquilo que é celestial. Aleluia! A Igreja é celestial.
Como nos ensina Deus por Isaías 11, o verso 2, recebemos pelo Espírito do Senhor, o óleo puro do Senhor, pela luz da Palavra: a sabedoria, o entendimento, o conselho, o fortalecimento, o conhecimento e o temor do Senhor. Quão rica tem sido a comunhão com o Pai e com o seu Filho Jesus e uns com os outros! É um gozo completo. É realidade espiritual, viva e eficaz (Heb. 4.12) e não somente palavras. As suas palavras são espírito e são vida, e tudo vivificado pelo Espírito (Jo. 6.63).
Ao contrário dos tempos de Samuel, o Senhor tem iluminado de forma abundante e contínua a nossa comunhão neste tempo, por isso devemos atentar com mais diligência para as coisas que temos ouvido (Heb. 2.1). Não desprezar aquele que nos fala, porque a sua Palavra tem vindo lá do céu (Heb. 12.25). O Senhor tem nos enviado a sua Luz para que olhemos para Ele e sejamos iluminados e não fiquemos confundidos (Sal. 34.5).
Como o candelabro deveria ficar aceso constantemente, a nossa luz também deve brilhar diante de Deus e dos homens constantemente, porque se a luz que há em nós forem trevas, quão grande serão tais trevas (Mat. 6.23).
O santo lugar é onde os santos na Presença e na Luz do Senhor têm uma santa comunhão e gozam de todos os privilégios celestiais e divinos. Não para alguns homens especiais, mas para todos os filhos de Deus; para toda a nação santa, para todos os sacerdotes reais. Onde todos podem gozar por Cristo do serviço que se faz a Deus e aos homens pela vontade de Deus na Casa de Deus. Por amor e não por preço.
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